sábado, 22 de agosto de 2009

As múltiplas faces da política brasileira

Haroldo Gomes


Há algum tempo, mais acentuadamente nas últimas semanas, temos sido bombardeados através da mídia sobre a falta de ética e de decoro parlamentar dos senadores no Congresso Nacional. A reprodução de algumas falas podem nos remeter a algum juízo de valor e a questionamentos sobre o que está acontecendo. Sobre o papel dos senadores, e acima de tudo, o papel da mídia na formação da opinião pública. “Não me aponte este dedo sujo, Cangaceiro de quinta categoria!”, “O que está acontecendo comigo hoje, pode acontecer com qualquer um dos senhores amanhã”, “que o senhor as engula, e as digira como entender, Excelência!”, (...).
O filósofo Aristóteles disse que “o homem é uma animal político”. Isso quando os gregos estavam ensaiando as cidades-estado. Hoje, precisamos fazer um profundo autoquestionamento sobre o que é política, ética e poder se quisermos chegar a alguma resposta. A dinâmica da globalização tem nos imposto mudanças e a falta de tempo, creio, seja um dos fatores para que a sociedade não se posicione diante de um assunto de tamanha gravidade. Russell definiu política como “conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados”. Que meios são esses? Penso que o que estou vendo e ouvindo seja melhor definido pelo filósofo Thomas Hobbs “a política como meio adequado à obtenção de vantagens”.
Vantagens levadas ao extremo pelo atual presidente do Senado, senador José Sarney. Ele está bem protegido pelos sectários: Fernando Collor – aquele que só foi alijado do Poder, na época, por causa do irmão que falou o necessário para desencadear a ira de seus próceres; de Renan Calheiros – que passou pelo mesmo “calvário” que Sarney está passando e renunciou à presidência da Casa para não ser cassado. E por fim, as primeiras sete acusações a Sarney foram arquivadas pela Comissão de Ética do Senado.
Aos olhos do único homem neste país que nada viu, que nada sabe, pesam-lhe as mãos paterna de conciliador. De colocar ordem na Casa e manter o apadrinhamento do PMDB. Mas as regalias, os atos secretos, o poder e o egoísmo falam mais alto e as coisas tomaram outras formas e rumos. Ao invés dos senadores legislarem, agora eles estão preocupados em recuperar o respeito perante a sociedade.
Um atributo positivo os senadores têm. Já que todos somos animais políticos, uma coisa nos difere dos demais: o poder de nos comunicar através da fala. Resta saber se o que eles têm a dizer terá o mesmo efeito na mesma proporção com que eles têm tratado a coisa pública.
Ao “quarto poder” recentemente extirpado pelo Supremo Tribunal Federal, devidamente denominado como “entulho da ditadura militar”, resta tentar mostrar ao povo brasileiro o que está acontecendo... Mas ao que tudo indica a opinião pública da política partidária brasileira não está sofrendo abalos com a veiculação da degradação do Congresso Nacional. Sobre este fato, penso que duas coisas podem estar acontecendo. A primeira, o fisiologismo político está em estado de metástase; segundo, que o árduo trabalho da imprensa está deixando realmente de ter importância. Será? Reflitamos!


P.S.: Artigo publicado parcialmente em o Diário do Pará [em 12 de agosto], na íntegra em O Liberal [em 18 de agosto] e A TRIBUNA de Castanhal [24 de agosto].