Meus amigos não acreditaram!
Em uma das letras
de suas muitas canções Cazuza cantava que “o bar é a igreja de todos os bêbados”.
Até hoje circulam muitos discursos sobre esse local. O Jaime, cronista
castanhalense, se especializou no assunto e escreveu um livro sobre o tema, a
partir de observações nas mesas de bares que frequenta. Fato é que o bar é um paradoxo
para os que não bebem, e uma plêiade de “filósofos” que debatem sobre tudo e
todos, e, ao fim, ainda se inspiram em Raul Seixas, “aqueles que provarem que
eu estou mentindo, tiro meu chapéu”.
Comecei essa
crônica falando sobre bar porque ele é o local onde os frequentadores falam
sobre as mazelas do futebol, da vida, da política etc. Dito isso, assistindo ao
JH, recentemente, o qual destacou a faxina forçada que está ocorrendo na
política nacional. Diante de tantos fatos relevantes, me veio à mente os
debates acalorados que outrora travava em meu bar preferido: o Flasica, no
bairro da Saudade. Para meu desespero, quando dizia aos meus amigos que se o PT
caísse era uma questão de tempo e o efeito dominó atingiria os demais partidos.
O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, já pediu a prisão de vários
caciques do PMDB. A maioria dos meus interlocutores dizia: “cadeia não foi
feita para esses caras. Eles vão morrer no poder e nada vai acontecer”. Ainda
bem que nada é absoluto!
Com a crise que
se instalou no país, sobre nós, assalariados; com o preço da cerveja às
alturas, quase não vou mais ao bar, isso impede que nos encontremos para darmos
sequência aos debates sobre esse e outros temas. Sei também que muita gente
jamais imaginou ver deputados, senadores, prefeitos, vereadores e megaempresários
presos – mesmo que em domicilio, monitorados por tornozeleiras eletrônicas. Esses
dias chegaram! Depois do Roberto Jeferson, agora, foi a vez do senador Delcidio
do Amaral, que já foi solto, porém, foi cassado e está inelegível por oito anos
e proibido de ocupar cargo público. Ufa! Um a menos.
Imagino que
as pessoas de bom senso que ainda são obrigadas a votar, ou mesmo as que vendem
seus votos, que ainda não haviam presenciado tais cenas na mídia, devem vibrar
como um gol da Seleção Brasileira de futebol, em final da Copa do Mundo, todos
os dias nos últimos meses, com o avanço da Operação Lava Jato. As investigações
da PF, as delações premiadas, a revelação de escutas telefônicas têm mostrado a
podridão que soterrou o país à corrupção, ao retrocesso e o levou ao caos
financeiro.
Saiu um
governo e entrou outro. Em apenas quinze dias desse governo novo, dois Ministros
perderam o cargo. Motivo: escândalos e tentativas de obstruir a Lava Jato. Os dois
episódios expuseram ainda mais a ferida aberta pela crise ético-moral na
política nacional. Pelo fato de ser senador, Romero Jucá reassumiu seu posto no
Senado, entretanto, pode perder o mandato, já que sua ação caracteriza quebra
de decoro parlamentar; o caso pode ir ao Conselho de Ética. Vou colocar na
pauta da reunião com os demais filósofos a questão da reforma política, que uma
vez aprovada deverá impedir que políticos com mandato ocupem outras funções,
senão aquela para a qual foi eleito.
Nós,
brasileiros, temos a fama de termos memória curta. Teremos em outubro próximo
eleições municipais, um bom ensaio para sabermos se o que está acontecendo seja
passado a limpo, ou mantido. Fato é que a Justiça abriu os olhos e vem
realizando um papel fundamental, devolvendo em parte a esperança de que nosso
país ainda tem jeito, mesmo que para isso ainda leve algum tempo.
Quanto ao
bar, onde tudo começou, espero que quando ocorrer o encontro tenhamos tempo
suficiente para debater tanto assunto, e que a cerveja e a crise tenham
baixado. Afinal de contas, no bar, tempo só é dinheiro quando voltamos a vista
para debaixo da mesa e vemos a quantidade de garrafas vazias. E quando não dá
para pagar tudo, a gente pendura. No nosso caso. Com relação aos políticos de
Brasília, nossa paciência não pode mais tolerar.
Por Haroldo Gomes