quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Como calculadoras ambulantes

Haroldo Gomes [*]

Desde que recebi uma mensagem de texto da operadora de celular, há cerca de dois meses, informando que para ligar a partir de agora por meio de DDD para São Paulo temos que acrescentar o dígito 9 aos tantos números já existentes - com mais o nove passaram para 14. Então, fiquei a meditar. Em resumo, nunca tive relação amistosa com os números e a matemática. Que o digam os concursos em que há esta disciplina.
Aliás, não só eu, mas a maioria dos brasileiros. Não é desculpa, é fato. Os índices avaliativos relacionados à educação não me deixam mentir. É aquela tal coisa, se você não pode vence-la, junte-se a ela. É o que venho tentando fazer para não colocar a culpa apenas na matemática, afinal, ela é exata, dizem os matemáticos.
E não dá mesmo para viver sem eles. O celular, o cartão de crédito, para acessar o e-mail, para pagar um simples boleto apenas com os números do código de barras é aquele sufoco. Ai, você enlouquece quando olha a quantidade de números, se tiver um dígito errado ou invertido o pagamento vai parar em outra conta. Eles estão por toda parte.
Há quem não consiga fazer uma continha usando uma das quatro operações. Memorizar tantos úmeros então! Desta fase eu consegui passar. Até já memorizei os números do RG e os do CPF; por outro lado, resolver uma questão com tantos números e letras é um tormento. No concurso recente da Prefeitura de Castanhal fiquei cerca de meia hora em uma questão, o resultado não condizia com as alternativas relativas à questão. Assim que saiu o gabarito corri para tirar a dúvida: errei! Até aí nenhuma novidade. O problema é que mandei um matemático fazer a questão e ele também não encontrou o resultado. Mas vamos à diante, ela é exata!  
De uma forma ou de outra, a gente vai se transformando sem perceber em verdadeiras calculadoras, são números para todos os lados, e desta forma eles vão ficando íntimos. Isso não quer dizer que estejamos melhores em matemática; mas já vale pela aproximação.
________
Jornalista graduado pela Universidade da Amazônia (UNAMA) e especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Castanhal - Fcat.

O que você faria como dinheiro que é desviado da Alepa?

By Haroldo Gomes


Corrupção ainda não é título de música alguma, pelo menos que eu conheça. Mas que está nas paradas de sucesso há muito tempo, isso ninguém nega. É corrupção na Câmara de Vereadores, nas Assembleias Legislativas, no Congresso Nacional. É melhor generalizar a todas as esferas de poder, para não estender mais a lista.
A Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) não poderia fugir à regra. Dizem que quem rouba um centavo, rouba um milhão. Aliás, um não, muitos milhões. E o que mais intriga é que os observatórios sociais e os meios de comunicação massificam cada fato, depois que a poeira baixa, fica tudo por isso mesmo. E os protagonistas da apropriação indevida não devolvem dinheiro algum aos cofres públicos.
Foi assim com os ex-deputados Robgol, Domingos Juvenil e Mário Couto (que hoje é senador da República). E, certamente, terá o mesmo destino o caso do atual deputado estadual Pastor Divino.
Estudos apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE no ano passado mostram que o país tem hoje 16,27% da população brasileira vivendo em situação de extrema pobreza, ou seja, um brasileiro a cada grupo de dez pessoas está inserido neste contexto. Aqui, na região Norte, esse número é de 2,65 milhões de pessoas que não tem renda alguma e, certamente, não tem o que comer todos os dias.
Se o dinheiro que escorre pelo ralo da corrupção para os bolsos de políticos inescrupulosos fosse investido em comida, por exemplo, nossa região teria pouca gente vivendo em situação de extrema pobreza. Como é muito dinheiro, vou tomar como parâmetro apenas os convênios celebrados entre a Alepa e entidades não governamentais nos últimos dez anos, e o esquema de gratificações fictícias para engordar remunerações de funcionários fantasmas na gestão de Mário Couto. Se somada toda essa dinheirama, passará de UM BILHÃO de reais. Nem a mega sena acumulada paga tão bem e tão fácil assim.
Quantas quentinhas – que hoje tem custo médio de R$ 7 – daria para comprar com um bilhão de reais? Quantas pessoas e por quanto tempo seriam alimentadas com esse montante? Mas além da fome e da miséria outras mazelas atormentam a vida de quem mora em nosso Estado: a falta de infraestrutura de transporte; malha viária; segurança pública; saúde e educação. Para sanar essas e outras situações o governo diz que não tem dinheiro.
Talvez a Alepa esteja seguindo à risca a definição baseada na defesa do senador José Sarney (2009) mediante os sucessivos escândalos em função dos atos secretos naquele Poder. Quando instigado pelos colegas paramentares, o senador usou a tribuna e se defendeu alegando: “Que crise? Se há, ela não é minha, ela é do Senado!”. Partindo deste pressuposto, ele talvez esteja certo. O fato só vem comprovar que as Câmaras Legislativas país afora sejam uma coisa e seus representantes sejam outra.
A relação entre eleitor e seus representantes não se esgota o se limita ao período de campanha. O problema é que uma vez passado este processo, os políticos são esquecidos, não são cobrados ou não prestam contas do que fazem com o mandato que o cidadão-eleitor lhe outorgou. Desta forma, eles se sentem livres para fazer como bem entendem com o mandato e com o dinheiro público. Exemplos não nos faltam...