by Haroldo Gomes
Creio que uma minoria já se deu conta
de que vivemos procurando analogias para justificar erros que comentemos com
frequência. Parece que tem algo a ver com a genética. Tanto que passa de pai
para filho. Pelo menos no discurso afinado. Nós ainda não existíamos, mas nossos
pais e avós já diziam que: “na nossa época era tudo diferente. Não existia nada
dessas coisas modernas e complicadas de hoje em dia”.
De repente, num piscar de olhos,
tudo mudou. As coisas, os gostos, as pessoas, os hábitos. Menos a gente, claro.
Parece que o tempo parou e nós não acompanhamos, ou não fazemos parte da
mudança e das coisas que julgamos ser ruim. Continuamos os mesmos vendo tudo
acontecer sem esboçar poder algum de reação. Com exceção de apontar o que
achamos errado.
De fato muita coisa mudou e
continua mudando na rua em que moramos, no bairro, na cidade, no país. Ele está
cada dia mais violento, mais corrupto, mais negligente. E a
culpa é dos outros. Isso porque só o vizinho dá o carro para o filho menor de
idade dirigir sabendo que é crime. Que só o vizinho furta energia elétrica e
fura a fila do caixa eletrônico. Que dirige sem o cinto de segurança falando ao
celular e quando é flagrado para não ser multado suborna o agente de trânsito
sem nenhum pudor ou sentimento de culpa por alimentar um dos maiores cânceres
da sociedade contemporânea: a corrupção.
Outra coisa que se pratica muito
e que se acha simples em nosso país é o ato cultural de votar no candidato “a”
ou “b” se receber algo em troca. Em resumo, o que o candidato faz com o mandato
pouco importa para quem vendeu o voto. Quando a imprensa divulga fatos
recorrentes de escândalos envolvendo políticos o que mais se houve deste tipo
de cidadão é que “todo político é ladrão”. Mas afinal, quem é mais ladrão nessa
historinha sem fim, aquele que vendeu ou
aqueles que compraram o que não tem preço?
Nada muda se esse exercício não
começar pela gente. Do jeito que caminhamos nos aproximamos cada vez mais da utopia.
Já que é mais fácil esperar que os outros façam sua parte para melhorar a vida
em sociedade, o mundo; enquanto a gente se exime das possíveis culpa. Até
quando?