Por Haroldo Gomes
Esta
crônica não é nenhuma campanha de marketing, ou mesmo merchandising ao calçado
que até virou canção na voz inconfundível de Cássia Eller, embora a composição
seja do ex-Titãs Nando Reis. Bem, eu comprei o tênis quando meu filho precisou
de um par para o futsal dele, no meio da procura achei este par vermelho, ficou
perfeito no pé, então, o levei. Não sabia que ele iria ser motivo de críticas.
Ele já
esta desbotando. Mas desde o início que meu irmão e um casal de sobrinhos
encasquetam quando veem em meus pés o All
Star vermelho. Eles me repreendem dizendo que não combina comigo, que não
tenho mais idade para usá-lo. Pergunto-me, o estatuto das pessoas adultas tem
algum artigo restringido o uso de determinadas roupas ou calçados? Se tem,
avisem-me, pra eu me ajustar às normas da boa vizinhança e de etiqueta
pós-moderna.
O senso
comum é algo engraçado. Às vezes, ou na maioria das vezes o praticamos sem nos
darmos conta de que em nossas ações e falas concebemos preconceitos com valores
fechados em determinados tradicionalismos. Não me sinto ofendido, mas sempre
reflito. Será que alguém vai impedir as mulheres evangélicas de praticar
exercícios físicos em praças públicas só porque elas em geral não usam shorts,
e sim, saias longas? Esteticamente não é correto, mas é a cultura delas que
esta ali impressa.
Vou me
apropriar um pouco da poesia de Nando Reis para dar mais leveza a esta
narrativa, um detalhe particular meu. Logo eu que sou atemporal. Na canção ele
relata detalhes da pessoa amada e das coisas que ele gosta nela. Em determinado
trecho: “estranho seria se eu não me apaixonasse por você... O som que eu ouço
são as gírias do seu vocabulário, estranho é gostar tanto do seu All Star azul, estranho é pensar que o
bairro das Laranjeiras satisfeito sorri quando chego ali e entro no elevador,
aperto o 12 que é o seu andar, não vejo a hora de te encontrar e continuar
aquela conversa que não terminamos ontem (...)”.
Com meu
irmão o All Star vermelho em meus pés
causa sentimento adverso ao da canção. Talvez por ele não ser azul. Ele
acredita que a partir de determinada idade de vida as pessoas têm que seguir
uma regra como a maioria das pessoas faz. Eu penso diferente, acredito e
procuro mostrar para mim mesmo que as pessoas têm que fazer as coisas que lhes
fazem bem, usar na medida do possível coisas que lhes motivem satisfação e lhes
tragam sensações e fluídos positivos.
É bem provável que meu irmão surte se eu lhe
disser que já estou de olho em outro par que vi na vitrine de uma loja aqui em
Castanhal. Ele é estilizado em papel jornal. Será uma justa homenagem à minha
profissão. Pode ser que assim eles relevem o meu gosto pelo uso de tênis
esportivo. Sem exageros, claro!
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Uma homenagem ao meu irmão Ivo Gomes,
aos sobrinhos Sávio e Luma Moraes, meus críticos de moda e comportamento. Minha
moda e não seguir o que é moda, o que é tendência. Mania minha.