Os dissabores da profissão de jornalista no Brasil
Sempre que
abro meu álbum de fotografias – bem na foto, sorridente, dentro da beca, por
ocasião da formatura – meus pensamentos retornam à época. E lá se vai quase uma
década. Tempo de muitos sonhos cunhados que a profissão me daria, do sucesso e
da realização profissional. Uma práxis semelhante à Pirâmide
Invertida: que parte dos pontos mais importantes aos menos pela ordem de
hierarquia dos fatos. Quando o texto fica muito longo e surge anúncio pago, ou
para ajustar ao espaço, é o primeiro a ser deletado. A metáfora se encaixa
perfeitamente hoje em dia aos profissionais jornalistas.
Da teoria à
realidade, quantos desenganos! Os desencantos não são exclusividades minhas,
imagino. A baixa procura pelo curso na última década caiu vertiginosamente; e os
centenas de “focas” recém-formados para onde foram ou vão? O que devem fazer
para exercer a profissão escolhida? Perguntas difíceis de serem respondidas.
Muitos colegas
da época da faculdade e outros profissionais há tempos no mercado, sempre que
os encontro, relatam quase sempre as mesmas coisas na mesma ordem: “amigo,
estou cursando outra faculdade, uma pós-graduação; estou me preparando para
concurso público. Não está dando. Arrependi-me de ter feito jornalismo”. São falas
que em nada combinam com quem dedicou quatro anos da vida aos estudos. Mas que
fazem parte de uma realidade perversa que acomete a grande maioria que escolheu
a profissão.
Tais
consequências são também fruto do que conhecemos como convergência de
plataformas multimídias, mídias institucionais e ferramentas de autopublicação.
A proliferação de mídias e tecnologias digitais colocaram definitivamente o pé
no acelerador e desenfrearam o processo de produção jornalística. Trazendo novo
adjetivo aos profissionais: o de “jornalistas 24 horas”. Já a valorização profissional
e salarial não acompanham na mesma ordem. E muitos vão ficando pelo caminho. Em
geral, as alternativas mais comuns são cursar outra faculdade ou fazer concurso
público - que é onde o diploma de graduação em jornalismo é exigência crucial. Na
prática, funciona como a Teoria do Espelho, em que os fatos são reportados ou
refletidos tais quais como o são. Dura realidade que nem sempre segue essa ordem.
Numa
sociedade de informação que sabe o valor deste bem para seus cidadãos, não deveria
permitir que o peso e a força fossem critérios de escolhas, e sim a capacidade
intelectual e a qualificação profissional. Avesso aos interesses do capital e
do sistema, nós, jornalistas, lutamos para não sermos objetos de Agendamento, que
possamos exercer o arbítrio profissional de definir o que é notícia e o que deve
ser publicado; e não o contrário, de sermos a notícia, de não temos onde
publicar os fatos de interesse que a população quer saber.
Por Haroldo Gomes