quarta-feira, 6 de julho de 2016

CRÔNICA DA SEMANA_06_07_2016_THO HG

Os dissabores da profissão de jornalista no Brasil


Sempre que abro meu álbum de fotografias – bem na foto, sorridente, dentro da beca, por ocasião da formatura – meus pensamentos retornam à época. E lá se vai quase uma década. Tempo de muitos sonhos cunhados que a profissão me daria, do sucesso e da realização profissional. Uma práxis semelhante à Pirâmide Invertida: que parte dos pontos mais importantes aos menos pela ordem de hierarquia dos fatos. Quando o texto fica muito longo e surge anúncio pago, ou para ajustar ao espaço, é o primeiro a ser deletado. A metáfora se encaixa perfeitamente hoje em dia aos profissionais jornalistas.
Da teoria à realidade, quantos desenganos! Os desencantos não são exclusividades minhas, imagino. A baixa procura pelo curso na última década caiu vertiginosamente; e os centenas de “focas” recém-formados para onde foram ou vão? O que devem fazer para exercer a profissão escolhida? Perguntas difíceis de serem respondidas.
Muitos colegas da época da faculdade e outros profissionais há tempos no mercado, sempre que os encontro, relatam quase sempre as mesmas coisas na mesma ordem: “amigo, estou cursando outra faculdade, uma pós-graduação; estou me preparando para concurso público. Não está dando. Arrependi-me de ter feito jornalismo”. São falas que em nada combinam com quem dedicou quatro anos da vida aos estudos. Mas que fazem parte de uma realidade perversa que acomete a grande maioria que escolheu a profissão.
Tais consequências são também fruto do que conhecemos como convergência de plataformas multimídias, mídias institucionais e ferramentas de autopublicação. A proliferação de mídias e tecnologias digitais colocaram definitivamente o pé no acelerador e desenfrearam o processo de produção jornalística. Trazendo novo adjetivo aos profissionais: o de “jornalistas 24 horas”. Já a valorização profissional e salarial não acompanham na mesma ordem. E muitos vão ficando pelo caminho. Em geral, as alternativas mais comuns são cursar outra faculdade ou fazer concurso público - que é onde o diploma de graduação em jornalismo é exigência crucial. Na prática, funciona como a Teoria do Espelho, em que os fatos são reportados ou refletidos tais quais como o são. Dura realidade que nem sempre segue essa ordem.
Numa sociedade de informação que sabe o valor deste bem para seus cidadãos, não deveria permitir que o peso e a força fossem critérios de escolhas, e sim a capacidade intelectual e a qualificação profissional. Avesso aos interesses do capital e do sistema, nós, jornalistas, lutamos para não sermos objetos de Agendamento, que possamos exercer o arbítrio profissional de definir o que é notícia e o que deve ser publicado; e não o contrário, de sermos a notícia, de não temos onde publicar os fatos de interesse que a população quer saber.
Por Haroldo Gomes 

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