By Haroldo Gomes
Corrupção ainda não é título de música alguma, pelo
menos que eu conheça. Mas que está nas paradas de sucesso há muito tempo, isso
ninguém nega. É corrupção na Câmara de Vereadores, nas Assembleias
Legislativas, no Congresso Nacional. É melhor generalizar a todas as esferas de
poder, para não estender mais a lista.
A Assembleia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) não
poderia fugir à regra. Dizem que quem rouba um centavo, rouba um milhão. Aliás,
um não, muitos milhões. E o que mais intriga é que os observatórios sociais e
os meios de comunicação massificam cada fato, depois que a poeira baixa, fica
tudo por isso mesmo. E os protagonistas da apropriação indevida não devolvem
dinheiro algum aos cofres públicos.
Foi assim com os ex-deputados Robgol, Domingos Juvenil
e Mário Couto (que hoje é senador da República). E, certamente, terá o mesmo
destino o caso do atual deputado estadual Pastor Divino.
Estudos apresentados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE no ano passado mostram que o país tem hoje
16,27% da população brasileira vivendo em situação de extrema pobreza, ou seja,
um brasileiro a cada grupo de dez pessoas está inserido neste contexto. Aqui,
na região Norte, esse número é de 2,65 milhões de pessoas que não tem renda
alguma e, certamente, não tem o que comer todos os dias.
Se o dinheiro que escorre pelo ralo da corrupção para
os bolsos de políticos inescrupulosos fosse investido em comida, por exemplo, nossa
região teria pouca gente vivendo em situação de extrema pobreza. Como é muito
dinheiro, vou tomar como parâmetro apenas os convênios celebrados entre a Alepa
e entidades não governamentais nos últimos dez anos, e o esquema de
gratificações fictícias para engordar remunerações de funcionários fantasmas na
gestão de Mário Couto. Se somada toda essa dinheirama, passará de UM BILHÃO de
reais. Nem a mega sena acumulada paga tão bem e tão fácil assim.
Quantas quentinhas – que hoje tem custo médio de R$ 7
– daria para comprar com um bilhão de reais? Quantas pessoas e por quanto tempo
seriam alimentadas com esse montante? Mas além da fome e da miséria outras
mazelas atormentam a vida de quem mora em nosso Estado: a falta de
infraestrutura de transporte; malha viária; segurança pública; saúde e
educação. Para sanar essas e outras situações o governo diz que não tem
dinheiro.
Talvez a Alepa esteja seguindo à risca a definição
baseada na defesa do senador José Sarney (2009) mediante os sucessivos
escândalos em função dos atos secretos naquele Poder. Quando instigado pelos
colegas paramentares, o senador usou a tribuna e se defendeu alegando: “Que
crise? Se há, ela não é minha, ela é do Senado!”. Partindo deste pressuposto,
ele talvez esteja certo. O fato só vem comprovar que as Câmaras Legislativas país
afora sejam uma coisa e seus representantes sejam outra.
A relação entre eleitor e seus representantes
não se esgota o se limita ao período de campanha. O problema é que uma vez
passado este processo, os políticos são esquecidos, não são cobrados ou não
prestam contas do que fazem com o mandato que o cidadão-eleitor lhe outorgou.
Desta forma, eles se sentem livres para fazer como bem entendem com o mandato e
com o dinheiro público. Exemplos não nos faltam...
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