Por Haroldo Gomes
Não,
não me reporto ao travesseiro como substantivo comum, mas a metáfora, para
designar as pessoas pelas quais procuramos para confidenciar assuntos que
ninguém mais pode saber além dela. Por mais que não admitamos, travesseiros
como estes recebem outras nomenclaturas, isso devido o grau de confiança,
afinal, não é qualquer pessoa que merece saber aquele segredo cabeludo. Nem
mesmo o padre.
É
comum ouvirmos muitas pessoas falarem que querem viver só, que não precisam de da
companhia de alguém. Contrariando a lógica de que somos seres de necessidades e
preparados para viver em sociedade, em coletividade. Deve ser o tempo, a
dinâmica da sociedade contemporânea em que vivemos que trouxe estes novos conceitos.
Às
vezes nem precisa ser algo tão complicado, mas que deve ser guardado como um
segredo a dois. A namorada de seu amigo deu mole e você a pegou; ou você
avançou o sinal e pegou a namorada de seu melhor amigo. Depois vem àquela
sensação boa de pecado, de alívio, de superação. Mas e agora, com quem dividir
este segredinho? Não contendo mais a euforia, socorre-se ao travesseiro: àquele
amigo, ou amiga para contar àqueles detalhes que tanto lhes sufocam.
O
problema em situações como estas é que seu/sua amigo (a) tem um (a) amigo (a), que
tem outra que é amiga do amigo e como aquela dinâmica do telefone sem fio,
assim vai... E o segredo vai perdendo sua essência, com certo tempo ele vira um
problemão. Isso dependendo do tamanho do segredo. Mas o fato é que ele deixa de
ser segredo.
De
qualquer forma, não se vive sem o travesseiro, é ele que nos socorre, e em
linhas gerais nos diz:
-
Poxa, você conseguiu!
Afinal,
o troféu é justamente àquela besteirinha que você precisa se livrar para
descarrego de consciência, até mesmo para massagear o ego, que é o caso mais comum.
Ação
como esta é perfeitamente comum como condição humana. O que demonstra que até para
aliviar nossa consciência mediante as falhas precisamos dividir com alguém,
mesmo que não se leve em consideração o grau de parentesco ou amizade, o
importante e liberar aquela ação boa ou má que tanto o incomoda. O certo que
àquele travesseiro o qual colocamos a cabeça todas as noites e que seria o
correto saber das traquinagens nossas de cada dia. Se assim o fosse, o universo
humano seria ainda mais indecifrável e tantas fotos permaneceriam sem um
desfecho ou sobre suas verdades.
Quem é o seu travesseiro?
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