Os fins de semana, nós e o silêncio
Sabe
aquele silêncio peculiar do bucolismo, que só é quebrado pelo vento quando colide
com as copas das árvores e em nossos rostos? Imagino que muita gente hoje em
dia nem saiba mais o que foi ou é o interior. Ainda existe, em pouquíssima
quantidade. Ainda é o local onde se pode armar a baladeira no pátio, nos jogar
dentro dela, cumprir aquele trajeto, indo e voltando, repetitivamente sem fim,
sem se preocupar com muita coisa. Claro, aos fins de semana!
Esse
desejo de fuga se dá em virtude do amplo desgaste no trabalho, da agitação peculiar
das cidades, sejam elas grandes ou medianas. É sempre a mesma coisa: longas
filas, e mais filas, fila no trânsito, no caixa eletrônico nos bancos, até para
ficar na sombra do poste na parada dos ônibus coletivos tem fila. Somando-se a tudo
isso o barulho vindo da rua, da casa do vizinho ao lado, dos carros-sons, e até
das igrejas. Em toda parte temos que ouvir o que em geral não gostamos. Nem
tanto pelo gênero musical, mas pelo excesso de barulho mesmo...
E por
falar em trabalho, tive como chefe, algum tempo atrás, um sujeito boa praça de
sobrenome Pinto. Durante o convívio, descobri porque quando perguntava se ele
moraria em Belém, ele me dizia, “se eu puder evitar, jamais! Eu quero é morar
em cidade que tenham menos de 20 mil habitantes”. E eu perguntava, por quê? E
ele filosofava cantando a música de Roberta Miranda “Ah! Tô indo agora pra um lugar todinho meu, quero uma rede preguiçosa
pra deitar, em minha volta sinfonia de pardais cantando para a majestade, o
sabiá”.
Hoje, morando
em outra cidade, bem menor que a anterior, compreendo porque meu amigo pensava
dessa forma. Quase todos os dias é o mesmo ritual, ao chegar em casa, no fim do
dia, no intento de descansar, é justamente quando os vizinhos resolvem acelerar
nosso processo de surdez. Isso de um lado, porque de outro, ainda têm as igrejas
– dessas que surgem todos os dias, em toda parte. Ou ainda uma terceira via, quando
as duas se misturam. Um misto de Deus e o diabo medindo forças sonoramente. Aí a
solução é fechar as portas de casa, arregaçar o volume da televisão para poder assistir
alguma coisa, ou ir dormir mais cedo.
Usufruir
o silêncio não é crime! Considerado um crime ambiental é o excesso de barulho, que
nas cidades é motivo de muitas reclamações, na maioria das vezes vira caso de
polícia. Agora, imaginemos aquelas pessoas que gostam de ler, um hábito que suplica
o silêncio e a concentração, em geral não podem fazer o que sugere a canção “Nenhum
dia”, de Djavan, em que devemos arrumar um bom lugar para ler o livro e exercitar
a arte de pensar.
É cada
vez mais comum aos fins de semana e feriados as estradas de acesso ao litoral no interior do estado virarem uma infindável romaria de veículos, dentro, condutores
e passageiros ávidos para chegar ao destino, só para exercitar o descanso
regado ao silêncio. Hoje, um bem mais que necessário cada vez mais distante.
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