terça-feira, 13 de setembro de 2016

CRÔNICA DA SEMANA_13_09_2016_THO HG

Os fins de semana, nós e o silêncio
Sabe aquele silêncio peculiar do bucolismo, que só é quebrado pelo vento quando colide com as copas das árvores e em nossos rostos? Imagino que muita gente hoje em dia nem saiba mais o que foi ou é o interior. Ainda existe, em pouquíssima quantidade. Ainda é o local onde se pode armar a baladeira no pátio, nos jogar dentro dela, cumprir aquele trajeto, indo e voltando, repetitivamente sem fim, sem se preocupar com muita coisa. Claro, aos fins de semana!  
Esse desejo de fuga se dá em virtude do amplo desgaste no trabalho, da agitação peculiar das cidades, sejam elas grandes ou medianas. É sempre a mesma coisa: longas filas, e mais filas, fila no trânsito, no caixa eletrônico nos bancos, até para ficar na sombra do poste na parada dos ônibus coletivos tem fila. Somando-se a tudo isso o barulho vindo da rua, da casa do vizinho ao lado, dos carros-sons, e até das igrejas. Em toda parte temos que ouvir o que em geral não gostamos. Nem tanto pelo gênero musical, mas pelo excesso de barulho mesmo...
E por falar em trabalho, tive como chefe, algum tempo atrás, um sujeito boa praça de sobrenome Pinto. Durante o convívio, descobri porque quando perguntava se ele moraria em Belém, ele me dizia, “se eu puder evitar, jamais! Eu quero é morar em cidade que tenham menos de 20 mil habitantes”. E eu perguntava, por quê? E ele filosofava cantando a música de Roberta Miranda “Ah! Tô indo agora pra um lugar todinho meu, quero uma rede preguiçosa pra deitar, em minha volta sinfonia de pardais cantando para a majestade, o sabiá”.
Hoje, morando em outra cidade, bem menor que a anterior, compreendo porque meu amigo pensava dessa forma. Quase todos os dias é o mesmo ritual, ao chegar em casa, no fim do dia, no intento de descansar, é justamente quando os vizinhos resolvem acelerar nosso processo de surdez. Isso de um lado, porque de outro, ainda têm as igrejas – dessas que surgem todos os dias, em toda parte. Ou ainda uma terceira via, quando as duas se misturam. Um misto de Deus e o diabo medindo forças sonoramente. Aí a solução é fechar as portas de casa, arregaçar o volume da televisão para poder assistir alguma coisa, ou ir dormir mais cedo.
Usufruir o silêncio não é crime! Considerado um crime ambiental é o excesso de barulho, que nas cidades é motivo de muitas reclamações, na maioria das vezes vira caso de polícia. Agora, imaginemos aquelas pessoas que gostam de ler, um hábito que suplica o silêncio e a concentração, em geral não podem fazer o que sugere a canção “Nenhum dia”, de Djavan, em que devemos arrumar um bom lugar para ler o livro e exercitar a arte de pensar.
É cada vez mais comum aos fins de semana e feriados as estradas de acesso ao litoral no interior do estado virarem uma infindável romaria de veículos, dentro, condutores e passageiros ávidos para chegar ao destino, só para exercitar o descanso regado ao silêncio. Hoje, um bem mais que necessário cada vez mais distante. 

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