sexta-feira, 14 de outubro de 2016

CRÔNICA DA SEMANA_14_10_2016_THO HAGAGÊ

As vozes das urnas

Por: Haroldo Gomes 
As eleições para escolha de representantes de cargos eletivos é uma das poucas e raras ocasiões em que o eleitor-cidadão de fato tem seus direitos resguardados através do voto. Embora ainda seja obrigatório em nosso país. Um contrassenso desde que o país reencontrou o caminho da democracia e passou a ter eleições diretas. Em cada uma delas fatos novos vêm ocorrendo. Com a deste ano não foi diferente. E foram muitos...
Passado o pleito, enquanto a maioria dos eleitos já monta suas equipes de governo e de transição, outros afinam o discurso de posse e a beca para sair bem na foto oficial. A exceção é a capital, Belém, onde haverá segundo turno para a escolha do prefeito para os próximos quatro anos. Porém, as lições deixadas ainda vão demorar para serem digeridas, principalmente por parte de quem foi vencido. Daqui a quatro anos o ciclo se abre outra vez. Se não houver mudança na lei até lá, metade desses imbróglios cai por terra, já que não teremos mais reeleição.
Embora tenhamos ouvido falar veementemente através da imprensa a respeito da suposta reforma eleitoral, ela nos parece ainda muito utópica. Com ampla incapacidade de coibir que candidatos presidiários concorram e tenham que ser escoltados e algemados em camburão da polícia até o local de votação; outros, respondendo a processos criminais ou na Lei da Ficha Limpa. Em meio a essas e tantas outras mazelas muitos se elegeram. De olho no poder, na influência, no foro privilegiado, até o crime organizado se faz representado ‘legalmente através da política’ a partir de primeiro de janeiro de 2017 por meio das inusitadas vossas excelências.
Em muitos municípios país afora o capital financeiro continua a fazer a diferença e a desequilibrar a balança ao influenciar o eleitor na hora de apertar o botão da urna. A prática do Voto do Cabresto hoje está mais para escambo – devido à mão ausente do estado em vários setores, dessa forma expõem as necessidades básicas que são trocadas pelo voto. Dessa forma, abrem-se caminhos para que muitos espertos se aproveitem deste artifício para negociar o voto e, consequentemente, se eleger -. Por outro lado, vimos o crescente aumento dos votos brancos, nulos e abstenções, uma clara sinalização de que se nada for feito, muito em breve chegará o momento em que apenas os candidatos, seus familiares e agregados irão votar; o que não impedirá que eles se elejam mesmo assim. É preciso refletir!
E as pesquisas de intenção de voto? Em alguns cenários, nem mesmo elas conseguiram reverter a vantagem em favor dos vencedores. O que deixou velado mais uma vez que eram apenas farsas. Por outro lado, continuam surgindo institutos de pesquisas de véspera de eleições espalhando-as com claras intenções: induzirem os leitores indecisos - que ainda votam nos candidatos que estão na frente. Três exemplos claros ocorrerem em Belém, Castanhal e Santa Izabel. Onde as pesquisas erraram feio!
Nesse emaranhado de fatores adversos, muitos escapam aos nossos olhos e compreensão. Vimos candidatos sem palanque, sem muito dinheiro, só com a força de vontade e a ajuda cada vez mais voraz das redes sociais desbancarem grandes e tradicionalíssimos candidatos, e consequentemente suas campanhas milionárias. Tudo isso vem reforça que algo está mudando. É muito pouco e quase imperceptível a olho nu, todavia, já nos servem de alento que apontam na direção de uma democracia mais justa e participativa, de fato e de direito.
Ainda é muito cedo para fazer afirmações pontuais a respeito desse tema. Afinal, em se tratando de política, tudo muda em fração de milésimos de segundos, de um candidato para o outro... Quanto aos ensinamentos deixados pelo pleito mais recente, é uma sinalização de que se quisermos as coisas podem mudar, como o de desconstruir o batido clichê que teima em dizer que “nesse país não se faz política sem dinheiro”.
As antigas práticas coronelistas estão sendo superadas aos poucos. Nas cabines de votação seus serviçais podem votar em quem quiser. Inclusive em branco. Se essa prática virar cultura, enfim, poderemos passar a limpo um passado enlameado por práticas abomináveis. Ainda não é a resposta definitiva, mas já sinaliza mudança de atitude e de postura política. Daqui a dois anos teremos novas eleições e poderemos aferir se o exercício da mudança vai continuar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário