Ontem fui à livraria
Algo de mais em ir a uma livraria? Depende!
A resposta é relativa. Talvez seja porque não encontramos livros e livrarias em
toda parte e muito menos um grande número de títulos como a que encontrei ontem.
Fato é que entrei nessa viagem por acaso. Uma possível explicação seja o clima
de fim de ano. Estava eu apenas acompanhando a família num passeio pela capital,
e em dado momento minha sobrinha teimou em querer ganhar de presente um livro. Quando
me dei conta estava em meio a eles, folheando-os com a mesma sensação que uma
criança tem quando ganha um brinquedo.
Entre Nélidas, Ferreiras, Maxes
Martins, Rubens Alves, Pessoas, Clarices, Veríssimos, e tantas outras
obras de cânones da literatura brasileira minha decepção só não foi maior
porque eles não tinham o preço expresso, como é comum nas livrarias que havia
visitado até então. Quando indaguei ao vendedor, fui informado que era só
passar o código de barras numa maquininha leitora próximo ao caixa. Por estar
descapitalizado naquele momento, foi até melhor não saber mesmo.
Do momento da concepção à distribuição
há um longo caminho que os livros percorrem até chegarem em nossas mãos. Acho
que é por isso que não temos lá aquela habilidade com a leitura e com os
livros. Além de caros, encontrar boas livrarias em nosso estado é como procurar
agulhas no palheiro. Mas naquele momento único, em meio à procura do que nem
sabia o que procurava me vieram alguns devaneios:
Um deles foi me perguntar por que meu
livro ainda não estava ali, no meio daquelas obras? É, tenho um livro de
crônicas revisado, diagramado, pronto para a impressão: é um apanhado de
escritos ao longo de vinte anos em que me aventuro a escrever. Mas antes disso
tem aquela barreira que é o lado financeiro; na outra ponta da situação tem ainda
o mercado com suas burocracias que freia nossas intenções de materializar tais desejos.
Pensamentos vãs, e eu, ali, encantado, pegando cada um deles como se pega um
cristal fino com o receio quebrá-lo.
Naquele momento ímpar me veio também
outras memórias, como o convite para fazer parte de Academia de Letras. E eu convicto
com o propósito relutante de sempre, e reafirmo: sem obra, não existe escritor.
Salvo engano após morte, que é quando surgem interesses e a coisa anda,
enquanto o autor perece no túmulo. Todo grupo social tem suas vaidades veladas,
e isso me fez lembrar do saudoso Ferreira Gullar que também resistiu muito até fazer
parte da Academia Brasileira de Letras. Ele devia ter os seus motivos, embora
tenha escrito e publicado suas obras ao longo de sua vida. Mas, enfim, muita
gente prefere o mérito sem ter algo que o justifique.
Depois de algumas horas percorrendo
prateleiras, livros e mais livros, fui convidado a acordar com a sutil dica de
que era hora de irmos embora. Tudo que é bom tem data de validade; a minha
acabara ali. Ao menos por alguns instantes pude sonhar, reviver o encantamento
de respirar livros, e descobrir nova opção quando puder adquirir alguns títulos
para o meu acervo, ou como presente.
Imagino que você que leu até aqui certamente
deve estar se perguntando: se eu não tinha dinheiro, como minha sobrinha saiu
da livraria com o presente desejado? Bem, uma coisa posso adiantar: não furtei
o livro, porém, informo-lhe que isso é assunto para outra crônica. Afinal, quem
tem boca vai à livraria, e quem tem cartão pode debitar por dezenas de parcelas
a perder de vista. Só não podemos perder o espírito natalino nessa época do ano
e deixar um parente sem presente!
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