quinta-feira, 27 de julho de 2017

CRÔNICA DA SEMANA_27_07_2017_THO HAGAGÊ

Arquipélago atroz, ilhas demagogas! 

A forma como a ampla maioria dos políticos brasileiros governa para as elites só reforça os porquês dos contrastes que separam um dos países mais ricos do planeta, a oitava maior economia global, das inúmeras desigualdades sociais ao longo da sua história. No fundo, no fundo, estas práticas políticas nada republicanas deixam evidentes a cultura da sobreposição das elites e a manutenção do poder a qualquer custo. Processo que se agrava cada vez mais e só contribui para aumentar a distância entre ricos, cada vez mais ricos, de pobres, cada vez mais pobres.
A mais recente demonstração desta relação promíscua refere-se à legalização da grilagem pela bancada ruralista na Câmara com o aval de Temer, que se utiliza do artificio como moeda de troca para manter-se na presidência. Do outro lado, tem os dois pesos e as duas medidas da justiça que não manda para a cadeia um condenado porque ele é popular e isso poderia causar comoção. Vamos esperar que a segunda instância mantenha a condenação. Enquanto isso o outro sai correndo pela porta da frente do presídio para cumprir prisão domiciliar em casa e sem tornozeleira. Ou seja, o pau que dá em Chico nem sempre dá em Francisco.  O Legislativo não fiscaliza o Executivo e a ciranda da gentileza entre os poderes se perpetua.
Exaustivamente a mídia tem reportado que o governo não tem dinheiro para investir em setores vitais. Por conta disso, os cortes estão a galopes afetando praticamente todos os setores que não são de seu interesse político. As universidades federais, as pesquisas científicas, e até as fiscalizações de rotina nas estradas, realizadas pela Polícia Rodoviária Federal, a expedição de passaportes já foram afetados. Demonstração clara de que a manutenção do poder é que é a prioridade; quanto aos interesses do povo, continuam empurrados para baixo do tapete fadado ao esquecimento profundo.
Por outro lado, dinheiro tem bastante para retribuir a gentileza em forma de emendas parlamentares aos “colegas” que votaram a seu favor na Comissão de Constituição e Justiça – CCJ. E assim aquela velha prática do é dando que se recebe mentem-se cada vez mais recorrente. Afinal, ano que vem tem eleições!
Discurso sem reflexão é ilusão! Então, tomemos como base o pensamento do escritor argentino Eduardo Galeno, em a obra “As veias abertas da América Latina” (2004), que narra com propriedade os porquês de até hoje a história política reproduzir as mesmas práticas quando o assunto são as relações entre os países latino americanos com europeus e os Estados Unidos. “O sistema é muito racional do ponto de vista dos estrangeiros que têm poder sobre a nossa burguesia de comissionados, que vende a alma ao diabo a um preço que envergonha qualquer um com bom senso. O sistema é tão irracional para todos os demais que quanto mais se desenvolve, mas se intensificam o desequilíbrio e suas tensões, suas contradições veladas.”
No mínimo estão nos reduzindo à condição de incapazes funcionais. O que estamos vendo é a inversão do obvio. É a batalha do bem contra o mal que se instalou nas entranhas da política nacional, como um vírus quando ataca o sistema. Em meio ao bombardeio e troca de acusações tornou-se difícil sabermos quem fala a verdade e pratica o bem, e quem está mentindo e fazendo o mal nessa novela mexicana que tem como única vítima, o povo.
Em resumo, os discursos políticos são produzidos com objetivo de orientar o sentimentalismo daqueles que gostam de viajar pelo romantismo das palavras bonitas e difíceis (pura demagogia). Como as que Temer vem utilizando, chegando a postular-se de vítima e a todo custo tem procurado transferir a culpa aos acusadores, uma manobra, como se nós, que só temos direito ao voto, ou melhor, a obrigação de votar, estivéssemos no tribunal do júri, e ao fim do espetáculo entre defesa e acusação ainda tivéssemos a incumbência de absolver o réu.
A conta da gastança do governo com os aliados e as mordomias majoradas dos Três Poderes continua sendo enviada por meio de impostos para a nossa fatura. Até o pato amarelo da elite industrial já voltou às ruas. Sinal de a coisa está feia mesmo! Enquanto a força se sobrepõem à vontade popular, o governo ilha o povo que acompanha a passagem de seu governo passivamente, apenas torcendo o nariz. Muito pouco para mudar o curso desta história...
Por Haroldo Gomes

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