quinta-feira, 1 de junho de 2017

CRÔNICA_DA_SEMANA_01_06_2017_THO HG

Ora, labutando; ora, retirando!
Por Haroldo Gomes 

Até o presente momento - pelo que me consta - o novo ainda causa estranheza. Os motivos são os mais diversos... Quero me reportar a um fato que faz algumas dúzias de verões amazônicos que ficaram para trás, mas, à época me deixou pensativo, quando tentava aprender técnicas de redação com um professor particular. Certo dia, ao tomar a redação para corrigir, ele parou, pensou, e me disse que haveria de chegar um tempo em que precisaríamos ter pelo menos cinco habilidades profissionais, caso contrário, ainda assim, ficaríamos fora do mercado de trabalho. Disse-me isso em função do tema da redação que propusera. Essa informação ficou armazenada no meu chip até agora. E tende a continuar!  
Comecei essa narrativa rebuscando essa reminiscência nas profundezas da memória porque esta semana assiste a uma cena de uma dessas novelas que estimulam ainda mais a competição entre homens e mulheres, quando em determinado momento uma personagem enfatizou àquela frase de efeito de que “só as mulheres são dotadas da capacidade de fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo sem perder a concentração”.
Sem a pretensão de colocar mais lenha na fogueira dos que levam a vida numa profunda competição, que conceituam os melhores e deletam os priores. Aqui, quero falar apenas de questões de mercado, de emprego, de renda, de espaço, direitos, tanto para mulheres como para os homens que almejam a igualdade sem levarem em conta questões relacionadas ao gênero.
Se a premissa de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo fosse de fato determinante o mercado de trabalho não estaria mergulhado numa profunda crise. O que se vê é uma imensa fila de desempregados, e nela, mulheres e jovens. São nossas habilidades que não atendem ao mercado, ou será que foi o mercado que não se preparou para tantas pessoas qualificadas? Ou ainda tudo isso se agravou por conta da crise? E quem causou a crise?
Eu até queria falar de números, mas não sou matemático e também não tenho muito apreço por ela. Porém, quando o assunto é desemprego, enquanto escrevia esse texto o número aumentava vertiginosamente. Aí fica difícil dar números atualizados. Uma coisa é certa, no bolo dos desempregados a massa que tufa o bolo tem o mesmo valor que a dor e torna todos iguais.
Mas eu estava mesmo era falando de pessoas que têm mais de uma habilidade e fazem duas ou mais coisas ao mesmo tempo. Ou não era? Pois bem, essa coisa de fazer muitas coisas, de correr como o Charles Chaplin em sua crítica através do cinema em “Tempos Modernos”. A lógica do capital pode também nos levar a patamares semelhantes ao do Japão, onde a doutrina é viver para o trabalho. As consequências são a depressão e as altas taxas de suicídios. Com tanta pressa caminhamos neste sentido também?
Aliás, correr faz bem à saúde. Não de carro pelo trânsito louco todos os dias nas médias e grandes cidades. Acho chique pilotos de carro circulando pelas ruas da cidade com parte do braço apoiado à porta e a outra ao volante, e na outra mão, um cigarro. E de vez enquanto, quando o celular toca, o piloto exerce mais uma função. Embora seja infração gravíssima. Mas, e daí? O importante é ser proativo: dirigir, fumar e falar ao celular ao mesmo tempo igual a um piloto de fórmula um correndo de um emprego ao outro, ou simplesmente para chegar em casa. Já ia esquecendo que o trânsito brasileiro faz vítimas em proporção a de uma guerra. Seria essa uma das motivações parta tantas vítimas?

Essa coisa de fazer muitas coisas ao mesmo tempo também me reporta a uma frase da escritora Cecília Meireles, a qual diz que o mais importante não é a velocidade, e sim a direção para onde vamos. Chegar ao objetivo é consequência de quem determinou para onde queria ir. Claro, no meio do caminho sempre existirão obstáculos, mas é sabido que uma hora chegaremos lá. E nem tanto por fazer duas ou mais coisas ao mesmo tempo; mas por fazer bem feito aquilo que nos propusemos a fazer.

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