terça-feira, 19 de setembro de 2017

CRÔNICA_DA_SEMANA_19_09_2017_THO HG

O rock ainda vive e protesta

O que o festival “Rock in Rio” este ano menos agrega em seus palcos é justamente o rock. Uma pena! Se ele esta ausente de um lado, ao menos o sentimento de protesto e atitude ecoam na outra parte por meio dos que ali já estiveram ao levantarem a bandeira do gênero que tem mais de 70 anos e é marcado por estas peculiaridades. 
Nos anos 1985, quando foi realizada a primeira edição do evento, o grito que saíra da boca dos artistas brasileiros encontrara paralelo na liberdade de expressão, face à ditadura que chegara ao seu fim após longos 21 anos. Depois disso, chegara à redemocratização, e com ela o direito de escolhermos quem queríamos que governasse. Duro engano! 
Daquele momento até aqui, 32 anos se passaram e os motivos para se protestar só aumentaram, embora pouco se tenha visto isso por parte dos artistas, possivelmente esta inércia tenha levado o gênero a mergulhar numa decadência profunda.
Fato é que em meio ao mar de gente que está indo à sétima edição do evento para cantar, pular e se divertir, tem recebido dos artistas um incentivo a mais para liberar a voz entalada na garganta e gritar para o mundo ouvir que não dá mais para segurar.
Falar aquilo que os outros gostariam de dizer é sem sombra de dúvidas uma das facetas do rock. Se bem que por vezes, é bem verdade, escrachado. Então, o bordão do festival que representa a voz da indignação na atualidade é, “fora, TEMER!” Como o festival só termina no fim de semana que vem, até lá será possível ouvirmos este bordão mais vezes em 250 bpm.
A mistura de saudosismo, rock’n roll e protestos nos leva a revirar o baú da memória atrás daquelas letras antológicas que replicam o que ocorre no Brasil até agora. A Legião Urbana perguntou, “Que país é esse?”; o Ultraje a Rigor afirmou que tudo isso acontece porque “a gente não sabemos escolher presidente (...) tem gringo pensando que nós é indigente, inútil, a gente somos inútil”!; Os Paralamas do Sucesso também afirmaram que os culpados “(...) são trezentos picaretas com anel de doutor”. E o diagnóstico final de que nossos representantes não têm jeito foi sentenciado pelos Engenheiros do Hawaii, “Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada (...) eu presto atenção no que eles dizem, mais eles não dizem nada...”.
Os festivais de rock teimam em serem híbridos. Então, por que não aludir o país do futebol, carnaval e samba finalizando esta crônica com um clássico de Bethe Carvalho que reporta muito bem o desatino econômico e político de outrora com o agora? “De que me serve um saco cheio de dinheiro pra comprar um quilo de feijão, me diga gente”?

Por Haroldo Gomes 

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