quarta-feira, 22 de junho de 2011

“Ai, ai meu Deus, o que está acontecendo com a Música Popular Paraense?"

by Haroldo Gomes
Tenho ouvido com certa frequência nos últimos meses pessoas falarem e defenderem o período em que os militares comandaram o destino político do Brasil. Época conhecida como Ditadura Militar, ocorrida em meados do século passado. A digressão histórica procura paralelo em função dos desmandos, do abuso de poder, do trabalho escravo, dos currais eleitorais, da política coronelista que até hoje ainda imperam na região Norte.  
Lembro-me que quando criança eu perguntará ao meu saudoso pai o que era Ditadura Militar. Grosso modo ele me respondia que era o tempo em que as pessoas não tinham liberdade para fazer o que queriam, pois, os militares nos privavam de quase tudo. Cresci com a dúvida. Mas, na escola aprendi que nesta época, embora não se pudesse falar, expressar ou fazer o que se queria, podia-se usar como recurso a inteligência para driblar a censura imposta pelo AI5.
Desta forma, cresci ouvindo Chico, Gal, Secos e Molhados, Caetano e o movimento Tropicalista, entre tantos nomes de igual ou maior relevo. Artistas que se utilizaram da música como elemento formador de opinião, engajamento político na defesa da liberdade de expressão e de outros ideais que contemplavam – sem exageros – o desejo da maioria, àquela época.
Os tempos mudaram. A democracia retornou e a mentalidade de nossos artistas parece não vir desde então acompanhando a severa realidade que os cerca. Digo isso, porque nosso Estado se encontra na UTI – faltam médicos, remédios, hospitais, e o que é pior, faltam recursos, segundo os políticos. Falta quase tudo. Só não falta dinheiro para custear o aumento abusivo dos deputados estaduais, os milhões que foram desviados em esquemas fraudulentos na Alepa. São tantos que se eu fosse enumerá-los essa crônica mudaria de gênero.  
O celeiro artístico paraense cresce a cada dia, mas lhe falta inspiração para musicar tantas coisas erradas. Em contra partida o que ouvimos são apologias à pirataria, à galera da golada, aos baldes de geada, dos DJs e as aparelhagens sonoras. A atual cena deveria ser explorada como tema em favor da defesa da Amazônia, de dizer não à corrupção, às mortes no campo. Chega de copiarmos e acharmos que o que é bom é o que vem lá de fora.
Temos identidade própria. Defender esses valores a meu ver é tão crucial quanto vivermos alienados em torno de uma batida eletrônica ou um artista que plagia alguém já consagrado. Ainda há tempo para se mudar os pensamentos e as atitudes. Do contrário, sobrarão reminiscências do tempo em que se dizia por meio de metáforas o que se queria, ou o inverso, quando tivemos a liberdade de nos expressar e em troca não dissemos praticamente nada.

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