segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Crônica da semana: 26 de janeiro de 2015.

 O poder do jornalista é a palavra
 * Por Haroldo Gomes
Quando um cidadão, ou um grupo de pessoas, se sente prejudicado, ao ter alguns de seus direitos, individual ou coletivo, cerceados, a fórmula capaz de pressionar as esferas de poder a se posicionar, é torná-lo público. É coloca-lo em debate e provocar a opinião pública.
Por conta disso, os jornalistas são chamados com a missão de resolver os problemas. Em tese, é isso que as pessoas esperam. Mas os jornalistas não voam, não têm superpoderes; o papel do jornalista é produzir uma boa reportagem, bem escrita, de forma responsável e imparcial, com informações minuciosamente apuradas e com fontes confiáveis. Nada mais que isso!
Na vida real muitos de seus personagens vivem procurando meios de imitar a arte, e a arte, por conta disso, procura fazer o mesmo. Um bom exemplo são os super-heróis Capitão Marvel, Super-Homem e o Homem-Aranha. Que na ficção escondem seus poderes na identidade de jornalistas. O sucesso desses heróis e jornalistas é tão grande que os homens de aço e aranha saíram das páginas das revistas em quadrinhos para as telas de cinema.
A visão romântica de resolver os problemas da humanidade perpassa o tempo e a ficção ao se tornar cada vez mais recorrente por meio das ações de muitos jornalistas na atualidade. Porém, o escritor e jornalista Clovis Rossi, em sua obra: “O que é jornalismo” joga um balde de água fria em quem pensa dessa forma. Ele definiu com muita lucidez o exercício: “Jornalismo, independentemente de qualquer definição acadêmica, é uma fascinante batalha pela conquista das mentes e corações de seus alvos [...]. Uma batalha geralmente sutil e que usa uma arma de aparência inofensiva: a palavra”.
Nem todos conseguem pensar e ver assim. Tanto que a tentação de alcançar o sucesso, de estar em igualdade, ou mesmo acima da repercussão do fato que cobre, parece mover os brios, de focas e veteranos jornalistas. Deve ser por isso que a identidade de muitos jornalistas assume também a faceta de herói. Seja qual for o grau de comprometimento do jornalista com seu ofício, ou empresa onde trabalha, deve conter a obsessão. Os sindicatos da categoria promovem todos os anos campanhas visando mostras aos jornalistas como dezenas de outros profissionais da área perderam suas vidas durante o trabalho, no Brasil e no mundo. A vida e a integridade física do jornalista em primeiro lugar.
Muitos jornalistas associam o poder e o heroísmo à teoria que confere à imprensa a representação de Quarto Poder. Na verdade, todas as profissões têm seus valores e funções sociais. O poder da imprensa é informa bem o cidadão, uma das prerrogativas das sociedades contemporâneas.
Se todas as profissões fossem valorizadas, o profissional que a executa deveria ser bem visto e reconhecido. Não como detentor de algum poder ou heroísmo; mas como alguém que faz o que tem que ser feito. Que cumpre sua função social. Desta forma, sim, pode-se dizer que os jornalistas são heróis, que mesmo com baixos salários, com poucas condições de trabalho, falta de reconhecimento, muitas das vezes incompreendido pelas fontes e editores-chefes. Estão ali, de prontidão para levar a informação por meio do veículo onde trabalha.
Se de fato os jornalistas são heróis e detentores de superpoderes, possivelmente eles estão em análise em alguma ‘sala de justiça’, onde se discute também as liberdades de imprensa e de expressão. São sempre oportunos debates que visem reflexões sobre o papel, o sentido, e, principalmente, os conceitos de liberdade.
Os pensamentos dos jornalistas de outrora conseguiram mudar o mundo, ou foi o mundo que mudou a forma de pensar dos jornalistas?
Toda liberdade, individual ou coletiva, tem suas condicionantes. Com relação ao exercício profissional da imprensa, Rui Barbosa defende o pensamento de que “devemos deixar a imprensa com seus erros e seus vícios. Pois seus erros encontrarão corretivos na sua virtude”. Será?
 Para onde caminhamos? 
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 (*) É jornalista pós-graduado em Docência do Ensino Superior. 



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