Por Haroldo Gomes
A coisa está feia financeiramente
para todo mundo, até mesmo para os corruptos e corruptores investigados pelos
vários esquemas fraudulentos espalhados país afora, a exemplo do “petrolão”. No
caso deles, é pela possibilidade de terem que devolver os bilhões roubados dos
cofres públicos, ou terem que ir para a cadeia. Essa segunda opção é quase
remota. É bem verdade também que os economistas e a equipe econômica do governo
federal não gostam do termo INFLAÇÃO, fica mais suave substituir por recessão
econômica. Um bom exemplo é o trocadilho da Comédia da Vida Privada, segundo a
qual: “Inflação é quando o dinheiro do
bolso não vale nada; já a recessão é quando o dinheiro vale, mas não
está no bolso”.
Tudo indica que nosso calvário está
só começando. Por conta da disparada do preço do dólar que impacta diretamente
nos preços de produtos importados, como o trigo e seus derivados; tanto que
comer o tradicional pão francês (também conhecido como careca) no café da
manhã, ou até mesmo em substituição em outras refeições ao longo do dia, vai
ficar mais caro e mais difícil mantê-lo à mesa todos os dias. Têm ainda outros
dois fatores que contribuem para a alta do preço final do produto: um é o
dissídio coletivo dos funcionários das padarias; o outro, a alta da tarifa da
energia elétrica.
Todavia, tradição é tradição.
Mantê-las vivas têm suas implicações, seja de cunho pessoal, religioso ou
quaisquer outras, de certa forma, elas esbarram em algum momento no aspecto
financeiro. Os cristãos católicos têm como tradição, nesta época do ano,
durante a Semana Santa, comer peixe. Embora nosso estado seja rico na produção
de pescado, devido à localização geográfica e banhado por águas, paradoxalmente
o preço do alimento que já estava caro, agora disparou. Com a taxa da inflação
às alturas, melhor dizendo, com a recessão econômica, comer peixe vai custar
caro. Manter assa tradição vai doer no bolso. Uma alternativa e substituir pelo
frango, que ainda tem preço relativamente mais em conta.
Na obra “Os homens e as ruínas”, do
escritor italiano Julius Evola, ele cita o pensador português António
Sardinha, devido à forma como o mesmo define tradição. Para ele, tradição
não é apenas o passado, e, sim, a “permanência no desenvolvimento, a
permanência na continuidade”.
O “xis” da questão é que o cenário
econômico brasileiro na atual conjuntura não favorece nem um pouco para a
manutenção de certas tradições, como a de comer peixe e ter o pão todo dia à
mesa. E nesta época do ano ainda tem a Páscoa. Já que coelhos não colocam ovos,
não custa nada trocá-los por barras, mas barato e simbolicamente dá no mesmo.
Ora, para que tradições, como as
citadas anteriormente, sejam mantidas, só se promovendo milagres. A exemplo da
multiplicação dos pães, ocorrido há mais de dois mil anos. Segundo narrativa
bíblica, cinco pães e dois peixes alimentaram mais de cinco mil homens e ainda
sobrou. No momento, com a desvalorização do real frente ao dólar, com a
inflação, o salário fica cada vez mínimo e o seu poder de fazer algum milagre é
quase zero, para não dizer inacreditável!
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