domingo, 5 de abril de 2015

Crônica da semana_05_04_2015


 mesmo milagre para manter algumas tradições vivas

Por Haroldo Gomes

A coisa está feia financeiramente para todo mundo, até mesmo para os corruptos e corruptores investigados pelos vários esquemas fraudulentos espalhados país afora, a exemplo do “petrolão”. No caso deles, é pela possibilidade de terem que devolver os bilhões roubados dos cofres públicos, ou terem que ir para a cadeia. Essa segunda opção é quase remota. É bem verdade também que os economistas e a equipe econômica do governo federal não gostam do termo INFLAÇÃO, fica mais suave substituir por recessão econômica. Um bom exemplo é o trocadilho da Comédia da Vida Privada, segundo a qual: “Inflação é quando o dinheiro do bolso não vale nada; já a recessão é quando o dinheiro vale, mas não está no bolso”. 
Tudo indica que nosso calvário está só começando. Por conta da disparada do preço do dólar que impacta diretamente nos preços de produtos importados, como o trigo e seus derivados; tanto que comer o tradicional pão francês (também conhecido como careca) no café da manhã, ou até mesmo em substituição em outras refeições ao longo do dia, vai ficar mais caro e mais difícil mantê-lo à mesa todos os dias. Têm ainda outros dois fatores que contribuem para a alta do preço final do produto: um é o dissídio coletivo dos funcionários das padarias; o outro, a alta da tarifa da energia elétrica.
Todavia, tradição é tradição. Mantê-las vivas têm suas implicações, seja de cunho pessoal, religioso ou quaisquer outras, de certa forma, elas esbarram em algum momento no aspecto financeiro. Os cristãos católicos têm como tradição, nesta época do ano, durante a Semana Santa, comer peixe. Embora nosso estado seja rico na produção de pescado, devido à localização geográfica e banhado por águas, paradoxalmente o preço do alimento que já estava caro, agora disparou. Com a taxa da inflação às alturas, melhor dizendo, com a recessão econômica, comer peixe vai custar caro. Manter assa tradição vai doer no bolso. Uma alternativa e substituir pelo frango, que ainda tem preço relativamente mais em conta. 
Na obra “Os homens e as ruínas”, do escritor italiano Julius Evola, ele cita o pensador português António Sardinha, devido à forma como o mesmo define tradição. Para ele, tradição não é apenas o passado, e, sim, a “permanência no desenvolvimento, a permanência na continuidade”.
O “xis” da questão é que o cenário econômico brasileiro na atual conjuntura não favorece nem um pouco para a manutenção de certas tradições, como a de comer peixe e ter o pão todo dia à mesa. E nesta época do ano ainda tem a Páscoa. Já que coelhos não colocam ovos, não custa nada trocá-los por barras, mas barato e simbolicamente dá no mesmo.
Ora, para que tradições, como as citadas anteriormente, sejam mantidas, só se promovendo milagres. A exemplo da multiplicação dos pães, ocorrido há mais de dois mil anos. Segundo narrativa bíblica, cinco pães e dois peixes alimentaram mais de cinco mil homens e ainda sobrou. No momento, com a desvalorização do real frente ao dólar, com a inflação, o salário fica cada vez mínimo e o seu poder de fazer algum milagre é quase zero, para não dizer inacreditável!  

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