segunda-feira, 22 de junho de 2015

Falou tá falado!
By Haroldo Gomes

A maioria das pessoas não da ouvidos ao que os políticos dizem. Tal desprezo se deve, em parte, pela obrigatoriedade do voto e o descrédito da classe política. Entretanto, a um grande abismo que separa promessa de planos de governo. Em geral, em quase 100 por cento dos casos, ocorre com a primeira opção. E tanto faz como tanto fez...
O palhaço e dublê de cantor Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, fez campanha pedindo voto aos eleitores sob o argumento de que "Pior que está não fica". Resultado: o país piorou consideravelmente e ele deu sua parcela de contribuição para isso. Fez mais promessas e se reelegeu em 2014. 
Mesmo com regimentos que buscam disciplinar excessos de políticos, volta e meia vossas excelências ignoram e quebram o decoro, colocam seus dedos em riste, ou por outra, falam o que de fato lhes convém. Ganham notoriedade por não terem papas nas línguas. E suas falas, são dadas como certas para ficar entre aspas, em destaque, ao provocarem a opinião pública e os adversários políticos.
O baixinho Romário em quanto jogador de futebol sempre foi polêmico. Há cinco anos na vida pública, agora como senador da República, mostra que está em plena forma. O ex-atacante demonstrou toda sua insatisfação com seus pares no Congresso ao fazer a seguinte declaração: “Achava que política era só ladrão e sacanagem. E acertei”. Vindo de uma autoridade, a declaração causa espanto mais ainda. Perfeitamente justificável, afinal, a maioria de seus colegas congressistas está no epicentro de escândalos, o “petrolão” é a bola da vez, além de tantos outros. Lembrando ao nobre parlamentar que esse é só seu primeiro ano no Senado, ainda tem mais sete pela frente. É bom colocar as barbas de molho!
Imagino que, você que leu até aqui, deva esta imaginado que eu esqueceria do rei dos clichês absurdos: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula. Se pensou, enganou-se!
Lula já foi crítico árduo dos políticos, em 1993 ele disse que “há no congresso uma minoria que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns trezentos picaretas que defendem apenas seus próprios interesses”. O clichê foi musicado pelos Paralamas do Sucesso dois anos depois. “Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou, são 300 picaretas com anel de doutor (...)”. Ao entrar para a política, Lula esquecera o que falara. É bom que se diga, não existe discurso em vão ou à toa. Todos, por mais tolos que sejam, têm suas intenções, assim como seu locutor.
Promessas são só promessas. Tiririca já aprendeu o que faz e o que não faz um deputado federal. Errou mais ainda em não ter voltado para nos contar, como prometera. Romário voltou atrás de seu clichê e disse que "cometeu uma injustiça" por ter se empolgado. Quanto a Lula, nunca viu, nunca soube de nada. Só esqueceu que dos quase 600 congressistas, mais da metade dos “picaretas com anel de doutor” lhe serviu de base de sustentação em seus dois governos, e continua, agora, com sua sucessora.
As memórias, individual ou coletiva, existem para nos ajudar a resgatar o que e por que se falou. Negá-las ou reafirmá-las. Políticos têm o hábito de falar muito, além disso, uma vez instalados na política só saem de duas maneiras: após a morte ou quando não reeleitos. O poder fascina e arrebata, tanto que quem está dentro não quer sair; e quem está fora quer voltar. Fato é, falou tá falado!

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