sexta-feira, 26 de junho de 2015

Crônica da semana_26_06_2015

A redução da maioridade penal é a solução!?

Quem utiliza transporte coletivo todos os dias sabe que ele se parece com um confessionário ambulante. Além da barulheira da lataria trepidando em meio às ruas esburacadas, ouve-se e fala-se de tudo um pouco... No meu itinerário que dura algo em torno 45 minutos, na semana passada, fui abordado por uma amiga que me recebeu, ao sentar ao seu lado, com uma pergunta inusitada, “você é contra ou a favor da redução da maioridade penal”?
A princípio eu disse a ela que não tinha formado opinião sobre o assunto. E de fato ainda não tinha, até aquele momento. Contudo, retruquei: você tem? Mais que depressa ela desbloqueou seu celular e me fez ler o que havia postado na sua página em uma rede social, onde ela se posiciona contra.
Como ao vivo, olho no olho, é mais prático, embora para muitas pessoas seja embaraçoso explicar, mas já que estávamos ali, foi inevitável. Então, sugeri que justificasse os por quês de sua posição sobre o tema.
De certa forma ela me ajudou a formar a minha opinião fazendo mais ponderações: amigo, há emprego para a maioria dos pais, para que eles possam de alguma forma oferecer o mínimo necessário aos seus filhos? Por falta de creches, a maioria deixa seus filhos a sós em casa ou na casa dos outros para poderem trabalhar. O que os filhos fazem nesse entremeio? Quando os filhos erram, a culpa é simplesmente dos pais? E quando eles são apreendidos, e a eles a Justiça imputa medidas socioeducativas, há espaço para todos, para que eles possam de fato sair de lá preparados para a sociedade?
Os governos vivem dizendo que não há dinheiro para isso e para aquilo. Todavia, é roubo para cá, corrupção pra lá, e o nosso dinheiro indo para os bolsos deles. Enquanto isso, os problemas vão sendo empurrados para baixo do tapete, diante de nossos narizes. Uma vez aprovada a redução da maioridade penal o estado vai se eximir ainda mais de suas responsabilidades, uma vez que não consegue cuidar nem dos adultos. Se nosso sistema carcerário de fato recuperasse, os presídios não estariam tão abarrotados como estão.
Após ouvi-la atentamente e ao acompanhar o embate pelos jornais nas últimas semanas, cheguei à conclusão de que ela está certíssima. É notório que a maioria das famílias brasileiras nasce sem o devido planejamento. Os fatores são os mais diversos. Na maioria das vezes a motivação é a gravidez precoce ou indesejada. O fato é que não é estruturada com a atenção devida, como se faz com toda edificação. Da mesma forma caminha o debate sobre o tema.
A situação é complexa e embaraçosa. É conveniente e oportuno questionar quem ajudou a destruir os princípios e os valores familiares para que essa instituição se desestruturasse a tal ponto? Há um ditado popular que diz que “o costume de casa se leva à praça”. Como uma bola de neve ladeira a baixo os maus hábitos, os maus exemplos foram e continuam sendo repassados aos adolescentes, tanto que o problema atingiu todas as camadas sociais. Inclusive às escolas, ou seja, o fundo do poço.
Para que haja mudanças é necessário dar o primeiro passo: resgatar a importância da família e seus valores, reconhecer os erros, ao invés de procurar transferir as culpas. Se quem rouba milhões, mata milhões, todos os dias quem se utiliza dessa conduta ajuda a aumentar o contingente de vitimas que não consegue acessar seus direitos, principalmente os adolescentes; a outra parte quando não morre, entra em conflitos com a justiça. Qual o melhor caminho, a cadeia ou a escola?  
No percurso de casa ao trabalho se pode fazer muitas coisas... Inclusive, se informar para poder formar opinião sobre a redução ou não da maioridade penal. E você, já tem opinião formada?
Enquanto isso, o ônibus e a viagem seguem... Quanto a mim, desço aqui, afinal de contas, tudo é passageiro, menos o cobrador e o motorista!

Por Haroldo Gomes

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