Sobressaltados!
A violência urbana é um “fantasma” real que não se sabe quando, onde e hora vai nos provocar susto, raiva, desespero, insegurança, sensação de impotência. Sabe-se que em potencial todos estamos suscetíveis a nos tornarmos, cedo ou tarde, vítimas dela, e entrarmos para as estatísticas. Que cresce avassaladoramente a cada instante...
Refiro-me às estatísticas em grosso modo, não a das polícias e órgãos
de segurança pública. Afinal de contas, a maioria da população já criou o senso
de que não dá em nada mesmo registrar ocorrência; até porque talvez não
dispunha de tempo e paciência suficientes para ir a uma delegacia formalizá-la.
Na maioria das vezes, fica por isso mesmo.
Até existem locais definidos como áreas de riscos. Porém, assaltos
hoje em dia acontecem no atacado em qualquer lugar, a qualquer hora do dia ou
da noite: na parada de ônibus; dentro de universidades; em lojas; na rua e até
na frente de casa. Quem já adquiriu o cartão fidelidade vítima de assaltos
ironiza a situação afirmando que tem que andar com a taxa do “pedágio”; para
quem teme a reação violenta dos ladrões e sabe que pode ser ainda mais danosa,
caso não tenha nada para ele nos subtrair.
Quem já foi vítima seguidas vezes, certamente já desenvolveu técnicas
para tentar amenizar o drama na hora da abordagem dos larápios. Coisas do tipo:
andar com dois celulares, sendo que o possante vai dentro da cueca, ou da
calcinha, aquele mais velho, já desgastado, fica à mostra e é logo surrupiado;
andar com bolsa e muitos objetos nem pensar! Ah, sim, sempre que tiver o
trocadinho, deixe-o separado direto no bolso, para facilitar!
Fugir é quase impossível! Ficar em casa é tornar-se prisioneiro. Cada
um procura e desenvolve maneiras de tentar amenizar a situação. Depois das
câmeras de filmagens e sua tradicional frase de efeito: “Sorria, você está
sendo filmado”, agora, casas e comércios são gradeados; seguranças armados a
postos; alarme; cercas elétricas e para quem tem capital para investir, até
porta giratória com detector de metais estão sendo instaladas em pequenos
comércios. Isso mesmo! Para comprar um quilo de açúcar, a partir de agora, na
quitanda do seu país do futuro, objetos de metais nem pensar, ou não vais
passar e ter que ir comprar em outro lugar. Que pode ser a quitanda do seu país
de todos!
Cada contexto tem roteiro próprio. Diferentemente de outras épocas,
inclusive de crise econômica, como agora. O diferencial é que no momento a vida
parece ter perdido seu sentido, seu valor, isso, claro, na visão dos ladrões,
que além de roubar, matam suas vítimas (latrocínio). Desfechos deste tipo são
cada vez mais comuns durante assaltos, mesmo quando as vítimas não esboçam
reação alguma, acabam sendo mortas, atiradas ou esfaqueadas...
Tanta violência, tantos assaltos alimentam as páginas dos jornais
adeptos do gênero noticioso; seguem este caminho as rádios, as emissoras de TV
e o web jornalismo. Midiaticamente, reproduzem a máxima de que a violência gera
mais violência. Do contrário, virou espetáculo!
Se tem um lugar onde todo nós, cidadãos de bens, nos encontramos neste
contexto, esse lugar é a esfera pública dos sobressaltados. Está é a palavra
mais apropriada para definir o momento. O verbete, segundo o dicionário da
Língua Portuguesa, quer dizer: estupefato, pasmado; aflito, inquieto. Além
disso, tem como sinônimos: alarmado, desassossegado e inquieto. Então, precisa
dizer algo mais?
Publicado no jornal A TRIBUNA DE CASTANHAL, ED 276 - na Coluna Apêndice, página 3.
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