segunda-feira, 7 de março de 2016

CRÔNICA DA SEMANA_07_03_2016_THO HG

Os paredões da vida real
Por Haroldo Gomes
Essa minha mania de ler continua a me causar boas e gratas surpresas. Sempre que esse hábito é exercitado novos mundos e fatos me são revelados, em outros casos servem para reforçar o que já imaginava, mas que não tinha certeza. Foi exatamente o que ocorreu recentemente durante a leitura de um artigo assinado pelo professor Rubem Alves.
O artigo de título “Sobre os perigos da leitura” narra o árduo exercício profissional como professor responsável pela seleção de doutorandos na Unicamp. O que ele define como atividade penosa. Em determinado trecho Ele próprio questiona: “como pode alguém decidir algo sobre a vida de uma pessoa em 20 minutos”?
O percurso das séries iniciais até ao doutorado exige mais de 20 anos de muita dedicação; nesse último, a dedicação é estritamente exclusiva. E não está acessível a todos! Dada a complexidade para o ingresso, tanto que já levou muitos amigos meus a estudarem no exterior. Mais fácil e sem burocracia! Aqui, quem resolve enfrentar esse caminho sabe que ele é cheio de práticas injustas e, na maioria dos casos, até desumana.
É uma verdadeira maratona! Já que exige do candidato leituras de vários livros, elaborar um bom projeto, ter um vasto currículo e muito sangue frio para persuadir a banca durante a entrevista. E como se não bastasse, ainda tem que depender do orientador escolhido: que ele seja da mesma linha de pesquisa e tome gosto pelo projeto. Caso contrário, nada feito!
É lamentável que no Brasil a educação ainda persista na cultura de ser pensada de cima para baixo. Mesmo com todos esses entraves a procura é grande pelos cursos de Mestrado e Doutorado, já a oferta caminha no sentido contrário. Do outro lado, a lei exige que para exercer o ofício na docência superior a titulação de Doutor. Porém, raramente algum certame consegue preencher as vagas como previstas no edital. Um contrassenso!
Realmente não deve ser uma tarefa fácil para um educador ter que agir como um médico do Sistema Único de Saúde, de decidir quem vai e quem fica por meio de uma ou duas perguntas. Mas é a regra do jogo! Possuir os títulos de Mestre e/ou Doutor exigem a demolição das pedras existentes no meio dos caminhos. Do contrário, o pretenso fica estagnado! 
Quanto a mim, que também estou na fila há alguns anos entre a maioria dos ainda não escolhidos, encerro este texto por aqui, antes que me recaia descarrego de consciência como o que ocorreu com os alunos eliminados pela banca organizada pelo professor Ruben Alves, e me passe pela cabeça que os meus pensamentos possam não ser de fato importantes...##THO HG

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