O país de coxinhas
Por Haroldo Gomes
Caso você seja do tipo que julga livro
pela capa, o texto pelo título, e achou que se trate de alguma dica de
culinária, errou! Mas, se estiver com fome, suponho que encheu a boca de água com
a iguaria que é feita de massa com recheio de frango, camarão, caranguejo... Quando
se usa essa expressão é certeza de que a imagem mais recorrente que vem a nossa
cabeça seja essa. Porém, também não é mais um slogan ou apologia a algum plano
mirabolante do governo federal que vai erradicar a fome no Brasil.
‘Coxinha’ ainda não consta entre os
demais verbetes nos dicionários. Nos últimos tempos ela vem sendo usada para
designar as pessoas com pensamentos ideológicos contrários aos do governo, ou mesmo
antigoverno. Como a massa em torno dos protestos ocorridos país a fora nos
últimos anos pedindo o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Não há ainda consenso formado sobre o
termo. Muitos manifestantes gostam; já outra parte considera a expressão pejorativa.
Com tanta variação, por que não elevá-la à categoria de verbo? – Ficaria
interessante nas manchetes dos jornais e noticiários de tevê: “manifestantes
estão ‘coxinhando’ neste momento contra o governo”. Neologismo eventual a parte!
Independentemente da nomenclatura, a inclinação
do brasileiro para protestar e interditar vias é enorme. Não se limitando apenas
aos políticos. Haja vista que há também o movimento dos anticoxinhas. Roger
Moreira (vocalista do Ultraje a Rigor) foi vaiado pelo público na abertura do
show dos Rolling Stones, recentemente. Quando as pedras rolaram e houve troca
de xingamentos de ambas as partes. Tudo porque o cantor é crítico assumido do
governo petista.
Evidentemente nos últimos tempos tem se
tornado mais efetivo os protestos, assim como o aumento do número de anticoxinhas,
algo como o milagre da multiplicação de insetos em volta da lâmpada quando acesa.
O caso é protestar contra o protesto. Para os anticoxinhas além de perseguição
infundada, até a justiça está jogando contra e armando pretextos para cassar o
mandato da atual presidente e de quebra mandar para a cadeia o ex-presidente
Lula.
Ainda bem que existe diferença entre coxinhas:
a iguaria é sugestiva em qualquer ocasião, serve até como cardápio quando assistimos
aos embates entre coxinhas e anticoxinhas pela TV em dias de manifestações. Embora
haja tanta diferença entre elas, há uma congruência: em excesso, tanto uma
quanto a outra causam mal estar. E assim o país desce a ladeira, caminhando e
protestando, sendo que na maioria dos casos sem surtir o efeito esperado.
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