Novo grito: é golpe!
Por Haroldo Gomes
São comuns os gritos ecoarem de maneiras distintas, na maioria das vezes
são entendidos de formas diferentes à finalidade de quem o emitiu. Alguns ficaram
famosos e entraram para a história. Quem não lembra daquele às margens do
Ipiranga. Controverso até hoje! Alguns anos mais tarde gritaram com a intenção
de ventilar que os comunistas iriam invadir o Brasil: o resto nós sabemos no
que deu. Agora, um novo grito procura eco positivo para escamotear crimes de (i)responsabilidades
fiscais e improbidade administrativa.
Presume-se que a CORRUPÇÃO tenha desembarcado no país junto com as
bagagens dos primeiros colonizadores, porém, a prática ganhou notoriedade mesmo
nos últimos tempos, com a vinda à tona de esquemas sofisticados de roubo do dinheiro
público: como o Mensalão, o Petrolão, entre outros. Dar o peixe é uma tarefa
fácil; ensinar a pescar é que é difícil! Cada vez que a rede é lançada ao mar
das irregularidades, graúdos homens públicos, com foro privilegiado, mandatários
de cargos eletivos são pescados. Esses predadores não estão a sós, há também a
participação de executivos de grandes empresas estatais e até privadas envolvidos
no jogo do vale tudo para se da bem.
No trajeto sócio histórico do país até aqui a impunidade política era vista
pela sociedade como um termo acessório, decorativo, já que permitia que os
políticos agissem com a certeza de que seus crimes seriam protegidos pelo manto
do descaso. Mas não! Contrariando a lógica, descoberto por acaso, entrou em
cena há mais de dois anos o maior e talvez a mais importante sigla do país, com
a maior representatividade, inclusive mais que o PT e o PMDB juntos, trata-se do
Partido da Lava Jato (PLJ).
À medida que as investigações avançam, já atingindo a 28ª fase, muitos
dos envolvidos para amenizar suas penas fizeram acordos de colaboração premiada,
assim, novos nomes vão sendo revelados. Desde então, o PLJ começou a ir buscar
graúdos bem cedinho, nas primeiras horas do dia, antes mesmo do café da manhã
em suas ilhas de conforto. Tiveram que ir à justiça prestar esclarecimentos por
meio de condução coercitiva, utilizado pela justiça 108 vezes. Até ex-senadores
e ex-presidente da República engrossaram a lista.
O PLJ vem mudando hábitos, lançando tendências comunicativas e mexendo
com a pauta dos jornais; provocando mudanças na rotina de vida de muitos políticos
e empresários que trocaram seus papeis e funções sociais. De honorável
prestígio para a condição de réu, preso, investigado, suspeito... Na tentativa
de escapar das chamas da inquisição ético e moral os acusados usam como argumento
o discurso de que o PLJ é quem está atrapalhando o desenvolvimento do país, que
é o grande culpado pelas crises econômica e política profundas instaladas no país.
Difícil prever aonde tudo isso vai dar! Entretanto, os números da PLJ
atualizados nos permitem fazer juízos de valor, de imaginar porque algo precisava
ser feito, que algo precisa mudar para que talvez o país volte a crescer. Só para
se ter um a ideia, só em propinas as cifras estimadas chegam a R$ 6,4 bilhões. Deste
montante apenas R$ 2,8 bilhões foram recuperados até agora.
A República de Curitiba, do juiz Sérgio Moro, como é denominada pelas
“vítimas” tem incomodado muita gente grande que se julgava intocável. Maior que
suas gulas financeiras são os números alcançados até agora: 1016 procedimentos
instaurados; 40 acordos de colaboração premiada; 80 condenações, o que contabiliza
783 anos e dois meses de pena. O detalhe é que a cada momento a cada fase essa
lista cresce...
Tanto nas democracias liberais, como na arte expressionista os gritos ecoam
de acordo com a percepção de cada cidadão ou grupo social. Em dado momento as
duas convergem em torno de problemas existenciais. Com relação ao golpe, digo,
ao grito pró-impeachment, o primeiro ministro-chefe nomeado e não empossado da República postulou: “quem dá ouvidos aos que defendem o impeachment está sendo
manipulado pela imprensa e é desinformado”. Para as vítimas do golpe pode até
soar ruim ou errado, porém, a grande virtude da democracia é que nela todos têm
os mesmos direitos, inclusive de gritar!
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