quinta-feira, 14 de abril de 2016

CRÔNICA DA SEMANA_14_04_2016_THO HG

Novo grito: é golpe!

Por Haroldo Gomes

São comuns os gritos ecoarem de maneiras distintas, na maioria das vezes são entendidos de formas diferentes à finalidade de quem o emitiu. Alguns ficaram famosos e entraram para a história. Quem não lembra daquele às margens do Ipiranga. Controverso até hoje! Alguns anos mais tarde gritaram com a intenção de ventilar que os comunistas iriam invadir o Brasil: o resto nós sabemos no que deu. Agora, um novo grito procura eco positivo para escamotear crimes de (i)responsabilidades fiscais e improbidade administrativa.
Presume-se que a CORRUPÇÃO tenha desembarcado no país junto com as bagagens dos primeiros colonizadores, porém, a prática ganhou notoriedade mesmo nos últimos tempos, com a vinda à tona de esquemas sofisticados de roubo do dinheiro público: como o Mensalão, o Petrolão, entre outros. Dar o peixe é uma tarefa fácil; ensinar a pescar é que é difícil! Cada vez que a rede é lançada ao mar das irregularidades, graúdos homens públicos, com foro privilegiado, mandatários de cargos eletivos são pescados. Esses predadores não estão a sós, há também a participação de executivos de grandes empresas estatais e até privadas envolvidos no jogo do vale tudo para se da bem.
No trajeto sócio histórico do país até aqui a impunidade política era vista pela sociedade como um termo acessório, decorativo, já que permitia que os políticos agissem com a certeza de que seus crimes seriam protegidos pelo manto do descaso. Mas não! Contrariando a lógica, descoberto por acaso, entrou em cena há mais de dois anos o maior e talvez a mais importante sigla do país, com a maior representatividade, inclusive mais que o PT e o PMDB juntos, trata-se do Partido da Lava Jato (PLJ).
À medida que as investigações avançam, já atingindo a 28ª fase, muitos dos envolvidos para amenizar suas penas fizeram acordos de colaboração premiada, assim, novos nomes vão sendo revelados. Desde então, o PLJ começou a ir buscar graúdos bem cedinho, nas primeiras horas do dia, antes mesmo do café da manhã em suas ilhas de conforto. Tiveram que ir à justiça prestar esclarecimentos por meio de condução coercitiva, utilizado pela justiça 108 vezes. Até ex-senadores e ex-presidente da República engrossaram a lista.
O PLJ vem mudando hábitos, lançando tendências comunicativas e mexendo com a pauta dos jornais; provocando mudanças na rotina de vida de muitos políticos e empresários que trocaram seus papeis e funções sociais. De honorável prestígio para a condição de réu, preso, investigado, suspeito... Na tentativa de escapar das chamas da inquisição ético e moral os acusados usam como argumento o discurso de que o PLJ é quem está atrapalhando o desenvolvimento do país, que é o grande culpado pelas crises econômica e política profundas instaladas no país.
Difícil prever aonde tudo isso vai dar! Entretanto, os números da PLJ atualizados nos permitem fazer juízos de valor, de imaginar porque algo precisava ser feito, que algo precisa mudar para que talvez o país volte a crescer. Só para se ter um a ideia, só em propinas as cifras estimadas chegam a R$ 6,4 bilhões. Deste montante apenas R$ 2,8 bilhões foram recuperados até agora.
A República de Curitiba, do juiz Sérgio Moro, como é denominada pelas “vítimas” tem incomodado muita gente grande que se julgava intocável. Maior que suas gulas financeiras são os números alcançados até agora: 1016 procedimentos instaurados; 40 acordos de colaboração premiada; 80 condenações, o que contabiliza 783 anos e dois meses de pena. O detalhe é que a cada momento a cada fase essa lista cresce...
Tanto nas democracias liberais, como na arte expressionista os gritos ecoam de acordo com a percepção de cada cidadão ou grupo social. Em dado momento as duas convergem em torno de problemas existenciais. Com relação ao golpe, digo, ao grito pró-impeachment, o primeiro ministro-chefe nomeado e não empossado da República postulou: “quem dá ouvidos aos que defendem o impeachment está sendo manipulado pela imprensa e é desinformado”. Para as vítimas do golpe pode até soar ruim ou errado, porém, a grande virtude da democracia é que nela todos têm os mesmos direitos, inclusive de gritar! 

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