A memória é o bilhete de passagem que permite viajar pelo tempo
Se você pudesse voltar
no tempo e tivesse a oportunidade de rever e refazer algo que desse para mudar
o final, o que você mudaria na sua história de vida? Viajar pelo tempo passado é
um dos grandes sonhos do homem moderno (ainda muito distante). Se bem que
outros ignoram o que passou e querem mesmo é ir logo ao futuro. Esse é um
assunto que ainda vai gerar muita controversa.
Por enquanto, o que
nos resta como recurso para deslocamento pelo tempo é a memória. Quem viveu e
aproveitou cada momento da vida tem como ir ao passado facilmente. Para muitos
é o que se chama de saudosismo. Assim, como recordar é viver, embora muitos
prefiram completar o trocadilho com o verbo sofrer. Afinal, gosto não se
discute. Acata-se.
Recorri a esta
introdução por conta de que numa manhã de sábado recente, ao acordar, desloquei
a mão para baixo do travesseiro para ver que horas eram. Então peguei aquele
aparelhinho que mesmo quando a gente não quer sua presença, a necessidade o traz
de volta para perto da gente. Amanhecer ouvindo uma boa música é relaxante, fundamental.
Hábitos que só ocorrem aos sábados e nos feriados.
Queria ouvir naquela
manhã um daqueles clássicos do Genesis que hoje só se ouve se tivermos um bom
acervo, ou recorremos à rede. A canção abriu a porta do tempo que me levou aos
anos 1980; justo naquela época em que para se ter acesso às músicas internacionais
era uma agonia danada. Lembrei-me também de onde tudo partiu: da Rádio Modelo
FM. A primeira rádio local que entrou no ar em fase experimental em meados de
1981, e em definitivo no ano seguinte. Tudo que é novo mexe de alguma forma com
nossos brios. Para não depender da rádio que tocava as mesmas músicas uma ou
duas vezes ao dia (a espera era num martírio). O jeito, então, era recorrer à tecnologia
disponível na época: a fita k7, onde gravávamos as preferidas, e, assim, ouvi-las
quantas vezes desejássemos.
Mas nem sempre esse processo
ocorria como pretendíamos. Em geral, no meio das músicas a rádio soltava uma
vinheta, o que jogava por terra todo o trabalho. A ação é conhecida até hoje por
“queimar a música”. Se a fita fosse de boa qualidade podíamos regravá-las muitas
vezes. Anos depois chegou a Castanhal uma loja chamada Musical Magazine. Era o
point. Os vinis com aquelas capas antológicos era uma redenção para quem
apreciava boa música, mesmo que não tivesse um toca discos. A sacada era
procurar os amigos que tinham uma e a viagem passava a ser coletiva. A loja era
o reduto para se conseguir também gravar as músicas sem as tais vinhetas. Quando
não haviam os discos desejados, a gente encomendava. O que levava até um mês
para chegar.
Com o celular em mãos
e a música de fundo refleti o quanto ele contribuiu para mudar nossas rotinas.
Cheio de recursos tecnológicos, como armazenar, baixar e compartilhar músicas, não
é nenhuma máquina do tempo capaz de nos transportar por ele; porém, ajuda-nos com
extrema facilidade a encontrar aquela trilha sonora que estrelou grandes e bons
momentos de outrora. Ação que por si só já é uma vagem. Quanto ao tempo,
passado ou futuro, isso depende do passageiro.
Por
Haroldo Gomes
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