quarta-feira, 26 de outubro de 2016

CRÔNICA DA SEMANA_26_10_2016_THO HAGAGÊ

A memória é o bilhete de passagem que permite viajar pelo tempo
Se você pudesse voltar no tempo e tivesse a oportunidade de rever e refazer algo que desse para mudar o final, o que você mudaria na sua história de vida? Viajar pelo tempo passado é um dos grandes sonhos do homem moderno (ainda muito distante). Se bem que outros ignoram o que passou e querem mesmo é ir logo ao futuro. Esse é um assunto que ainda vai gerar muita controversa.
Por enquanto, o que nos resta como recurso para deslocamento pelo tempo é a memória. Quem viveu e aproveitou cada momento da vida tem como ir ao passado facilmente. Para muitos é o que se chama de saudosismo. Assim, como recordar é viver, embora muitos prefiram completar o trocadilho com o verbo sofrer. Afinal, gosto não se discute. Acata-se.
Recorri a esta introdução por conta de que numa manhã de sábado recente, ao acordar, desloquei a mão para baixo do travesseiro para ver que horas eram. Então peguei aquele aparelhinho que mesmo quando a gente não quer sua presença, a necessidade o traz de volta para perto da gente. Amanhecer ouvindo uma boa música é relaxante, fundamental. Hábitos que só ocorrem aos sábados e nos feriados.
Queria ouvir naquela manhã um daqueles clássicos do Genesis que hoje só se ouve se tivermos um bom acervo, ou recorremos à rede. A canção abriu a porta do tempo que me levou aos anos 1980; justo naquela época em que para se ter acesso às músicas internacionais era uma agonia danada. Lembrei-me também de onde tudo partiu: da Rádio Modelo FM. A primeira rádio local que entrou no ar em fase experimental em meados de 1981, e em definitivo no ano seguinte. Tudo que é novo mexe de alguma forma com nossos brios. Para não depender da rádio que tocava as mesmas músicas uma ou duas vezes ao dia (a espera era num martírio). O jeito, então, era recorrer à tecnologia disponível na época: a fita k7, onde gravávamos as preferidas, e, assim, ouvi-las quantas vezes desejássemos.
Mas nem sempre esse processo ocorria como pretendíamos. Em geral, no meio das músicas a rádio soltava uma vinheta, o que jogava por terra todo o trabalho. A ação é conhecida até hoje por “queimar a música”. Se a fita fosse de boa qualidade podíamos regravá-las muitas vezes. Anos depois chegou a Castanhal uma loja chamada Musical Magazine. Era o point. Os vinis com aquelas capas antológicos era uma redenção para quem apreciava boa música, mesmo que não tivesse um toca discos. A sacada era procurar os amigos que tinham uma e a viagem passava a ser coletiva. A loja era o reduto para se conseguir também gravar as músicas sem as tais vinhetas. Quando não haviam os discos desejados, a gente encomendava. O que levava até um mês para chegar.
Com o celular em mãos e a música de fundo refleti o quanto ele contribuiu para mudar nossas rotinas. Cheio de recursos tecnológicos, como armazenar, baixar e compartilhar músicas, não é nenhuma máquina do tempo capaz de nos transportar por ele; porém, ajuda-nos com extrema facilidade a encontrar aquela trilha sonora que estrelou grandes e bons momentos de outrora. Ação que por si só já é uma vagem. Quanto ao tempo, passado ou futuro, isso depende do passageiro.
Por Haroldo Gomes 

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