O ritual emblemático da
passagem de ano
Se tem uma coisa lúdica nesse mundo, ela se chama a
passagem de um ano para o outro. Ninguém vê e nem pode tocar, mas esperamos
como se fosse um portal que se abre e nos leva do antigo mundo para o novo, com
a esperança de que ao passar por ele tudo vai ser diferente. Mas para isso tem
um ritual imprescindível, como fazermos contagem regressiva, soltar fogos, pular
sete ondas na praia, estar vestido de branco e quando chega o ápice, o momento
zero, à meia-noite em ponto, queremos logo ser a primeira pessoa a abrir os
braços e desejar feliz ano novo a quem gostamos. Pelo menos comigo sempre foi
assim. E com você?
A cada novo ano, logo no início, procuramos elaborar
planos de como fazer para ser diferente no final. E quando o momento se
aproxima percebemos que ficou quase tudo para cima, para a última hora e os
atropelos são invitáveis. O do ano passado para este não foi diferente. Chegamos
ao local desejado para ficarmos juntos em família já quase à noite. E corre pra
lá, e corre pra cá, mas no fim deu certo. Como sempre deu! E no meio disso tudo
não tive como não lembrar de quando era criança, quando meus pais faziam
exatamente o mesmo ritual, e eu querendo ficar acordado para saber como era a tal
mudança de um ano para o outro que todos os adultos tanto falavam.
Entre este e outros devaneios, lembrei-me também de
um gibi da Turma da Mônica, em que a personagem Chico Bento, um caipira juvenil
tinha essa mesma curiosidade de ver como era a mudança de um ano para o outro. Como
disse e repito, é lúdico por demais. Por instantes me identifiquei com a personagem,
que na trama dos quadrinhos tinha essa mesma curiosidade. Porém, à medida que
cresceu ficou acordado para ver como era e não gostou do que viu: da tamanha
loucura que é as pessoas pulando, bebendo, gritando, se abraçando efusivamente e
extravasando os sentimentos, desejando tudo bom as pessoas que queremos bem e a
nós mesmo, claro.
Muitos extrapolam e amanhecem o dia e o ano começa
com os olhos vermelhos como se aquele fosse o primeiro e último dia do ano. Mas
a maioria vai deitar um pouco mais tarde e aproveita o dia seguinte, que é
também o Dia Mundial da Paz, e continuar degustando o que sobrou da noite do ano
anterior. Para muitos este é sem dúvidas o melhor da festa, uma vez que já
passou toda aquela ansiedade e já estamos em um novo ano.
O ritual da vida cotidiana é cíclico e a roda não
pode parar. Prova disso que no dia posterior a vida volta ao seu ritmo normal de
atividades e segue seu curso, com as mazelas políticas, econômicas etc. Mas temos
também aquela capacidade de superação amparada nas alegrias das coisas boas que
nos causam felicidades, como conseguir aquele trabalho melhor, estudar e, claro,
os sonhos, de realizarmos e darmos aquela guinada na vida.
Uma coisa que não devemos fazer, é agir como o caipira Chico Bento, que ao ver tudo aquilo que lhe parecia
estranho, deu meia volta, e retornou para a cama, e deixarmos de lada cada
momento único, com ou sem explicações é o melhor, haja vista que passou,
não volta mais.
Um brinde ao ano de 2017 que já começou, com ou
sem encantos a vida real não tem regravações e como tal não vai parar para
lamentarmos. Então, vamos pra frente que para trás não dá mais...
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