segunda-feira, 20 de março de 2017

CRÔNICA DA SEMANA_20_03_2017_THO HG

Funk moribundo das carapanãs resilientes
Eu bem que poderia começar esta narrativa de outra forma. Mas a tentação de escrever fazendo analogias é maior, às vezes fica mais divertido ou mesmo lúdico, o que leva o leitor até o fim para ver o desfecho. Essa é a intenção! Então resolvi me aventurar em falar sobre algo de que não tenho conhecimento técnico. Mas a vida requer iniciativas, ações; caso contrário, tudo fica linear como as novelas da atualidade em que o fim é previsível. Uma hora tudo cansa. Essa não a intenção deste texto. Então vá adiante e leia o próximo parágrafo!
Eu e minha esposa mudamos para a nova casa recentemente, mas algo não mudou: a presença incômoda e constante das carapanãs. Mês a pós mês sempre repetindo o ritual de colocar inseticidas a mais no carrinho de supermercado. E toda noite o roteiro é o mesmo: fechar a casa e colocar o veneno e dar alguns minutos do lado de fora para só depois voltarmos. De início funcionou. Mas as carapanãs se adaptam ao veneno e continuam vivinhas. Depois ainda zombam da gente dando aqueles voos rasantes próximos aos nossos ouvidos produzindo aquele som zum, zum, zum, justamente quando queremos dormir, como quem diz: “eu estou aqui e só vou me retirar depois que jantar teu sangue”.
Percebi, então, que era preciso mudar de tática, afinal, o período chuvoso está aí e é a época em que as carapanãs mais se proliferam, parecendo político em época de campanhas eleitorais, quando estão em toda parte; ação contrária às carapanãs que não somem por quatro anos. E toda noite é aquele tormento. Sempre que passo em frente a algum camelô fico olhando aquelas raquetes que torram insetos, como as carapanãs, e me bate o desejo de compara uma, mas como é produto importado tenho resistido em adquirir uma.
Vendo minha aflição noturna e as tentativas em vão de eliminar as carapanãs minha esposa me preparou uma surpresa, mas não sem antes me torturar também. Na semana passada, ao chegar para o almoço, ela me disse: “quando você voltar da faculdade tem uma surpresa para você”. E eu, conta logo! Mas ela firmemente relutou em me dizer. No retorno, durante a viagem, me preparei como um adolescente ávido para o primeiro encontro com a amada. Quando cheguei, procurei logo retomar o assunto. Então, o que é a novidade? Sem titubear, para minha surpresa, me deu uma raquete elétrica já carregada. A emoção me tomou conta e foi só partir para o ataque. Segui pelos cômodos da casa como um jogador de tênis no saibro de Roland Garros, e ela, me seguindo de perto, morrendo de rir da minha felicidade excessiva executando meus saques indefensáveis às carapanãs. Estalos para lá, estalo para cá. E a partida seguiu na primeira noite até que a bateria descarregou completamente. A satisfação não poderia ser maior quando voltei os olhos para trás e vi centenas delas mortas e outras tantas tostadinhas entre as lâminas elétricas da raquete. Imaginei, ganhei a partida!
A título de curiosidade, Carapanã é um nome cunhado do dialeto indígena (tupi) conhecido assim na nossa região, todavia, nas demais regiões do país o inseto recebe outras denominações como muriçoca, pernilongo, sovela e mosquito prego. O ponto de convergência entre suas peripécias é quanto à forma de se alimentar, que é o nosso sangue.
Se tem um inseto resiliente neste mundo ele é a carapanã. A gente mata uma e surgem centenas. Pelo jeito aqui, em casa, estamos longe do fim da partida em que aponte para nossa vitória. Por enquanto a novidade é que preciso devolve gentiliza e adquirir uma raquete para exercitarmos o jogo de eliminação de carapanãs juntos. Afinal de contas, de tanto me tirar sarro, agora é ela quem vive como uma tenista no auge da carreira desferindo sua técnica nas carapanãs. Somos apenas dois frente ao exército de carapanãs.
O que nos serve de alento e motiva a resistir é saber que a tecnologia está aí para nos ajudar a termos um pouco mais de poder de reação, mesmo sabendo que elas são brasileiras e não vão desistem nunca. Se elas querem nosso sangue, tomarão nosso sangue só no fim, só assim. Assim, seguimos no ritmo do zum, zum, zum, perseverantes no enfrentamento à base das raquetas. 

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