quarta-feira, 8 de junho de 2016

CRÔNICA_DA_SEMANA_08_06_2016_THO HG

Meus amigos não acreditaram!


Em uma das letras de suas muitas canções Cazuza cantava que “o bar é a igreja de todos os bêbados”. Até hoje circulam muitos discursos sobre esse local. O Jaime, cronista castanhalense, se especializou no assunto e escreveu um livro sobre o tema, a partir de observações nas mesas de bares que frequenta. Fato é que o bar é um paradoxo para os que não bebem, e uma plêiade de “filósofos” que debatem sobre tudo e todos, e, ao fim, ainda se inspiram em Raul Seixas, “aqueles que provarem que eu estou mentindo, tiro meu chapéu”.
Comecei essa crônica falando sobre bar porque ele é o local onde os frequentadores falam sobre as mazelas do futebol, da vida, da política etc. Dito isso, assistindo ao JH, recentemente, o qual destacou a faxina forçada que está ocorrendo na política nacional. Diante de tantos fatos relevantes, me veio à mente os debates acalorados que outrora travava em meu bar preferido: o Flasica, no bairro da Saudade. Para meu desespero, quando dizia aos meus amigos que se o PT caísse era uma questão de tempo e o efeito dominó atingiria os demais partidos. O Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, já pediu a prisão de vários caciques do PMDB. A maioria dos meus interlocutores dizia: “cadeia não foi feita para esses caras. Eles vão morrer no poder e nada vai acontecer”. Ainda bem que nada é absoluto!
Com a crise que se instalou no país, sobre nós, assalariados; com o preço da cerveja às alturas, quase não vou mais ao bar, isso impede que nos encontremos para darmos sequência aos debates sobre esse e outros temas. Sei também que muita gente jamais imaginou ver deputados, senadores, prefeitos, vereadores e megaempresários presos – mesmo que em domicilio, monitorados por tornozeleiras eletrônicas. Esses dias chegaram! Depois do Roberto Jeferson, agora, foi a vez do senador Delcidio do Amaral, que já foi solto, porém, foi cassado e está inelegível por oito anos e proibido de ocupar cargo público. Ufa! Um a menos.
Imagino que as pessoas de bom senso que ainda são obrigadas a votar, ou mesmo as que vendem seus votos, que ainda não haviam presenciado tais cenas na mídia, devem vibrar como um gol da Seleção Brasileira de futebol, em final da Copa do Mundo, todos os dias nos últimos meses, com o avanço da Operação Lava Jato. As investigações da PF, as delações premiadas, a revelação de escutas telefônicas têm mostrado a podridão que soterrou o país à corrupção, ao retrocesso e o levou ao caos financeiro.
Saiu um governo e entrou outro. Em apenas quinze dias desse governo novo, dois Ministros perderam o cargo. Motivo: escândalos e tentativas de obstruir a Lava Jato. Os dois episódios expuseram ainda mais a ferida aberta pela crise ético-moral na política nacional. Pelo fato de ser senador, Romero Jucá reassumiu seu posto no Senado, entretanto, pode perder o mandato, já que sua ação caracteriza quebra de decoro parlamentar; o caso pode ir ao Conselho de Ética. Vou colocar na pauta da reunião com os demais filósofos a questão da reforma política, que uma vez aprovada deverá impedir que políticos com mandato ocupem outras funções, senão aquela para a qual foi eleito.
Nós, brasileiros, temos a fama de termos memória curta. Teremos em outubro próximo eleições municipais, um bom ensaio para sabermos se o que está acontecendo seja passado a limpo, ou mantido. Fato é que a Justiça abriu os olhos e vem realizando um papel fundamental, devolvendo em parte a esperança de que nosso país ainda tem jeito, mesmo que para isso ainda leve algum tempo. 
Quanto ao bar, onde tudo começou, espero que quando ocorrer o encontro tenhamos tempo suficiente para debater tanto assunto, e que a cerveja e a crise tenham baixado. Afinal de contas, no bar, tempo só é dinheiro quando voltamos a vista para debaixo da mesa e vemos a quantidade de garrafas vazias. E quando não dá para pagar tudo, a gente pendura. No nosso caso. Com relação aos políticos de Brasília, nossa paciência não pode mais tolerar.

Por Haroldo Gomes  

Nenhum comentário:

Postar um comentário